
O GP dos EUA correu o risco de ficar na história pelos piores motivos. As equipas do meio da tabela resolveram bater o pé e dizer “basta”. Lotus, Force India e Sauber entregaram um aviso de greve, por discordarem da forma com o dinheiro é dividido na F1 e por estarem a chegar a um ponto onde não podem competir.
Depois da entrada em falência da Caterham e da Marussia que não seguiram para os EUA, o grid ficar com menos 3 equipas equivaleria a menos 8 carros em pista, o que seria um espectáculo triste de se assistir.
Bernie levou as mãos à cabeça, ficou aflito e quem resolveu a situação foi Donald Mackenzie, patrão da CVC que detém a maioria dos direitos da F1 (basicamente ele manda, mas entregou o poder a Bernie, que também detém acções da F1, pois ele melhor que ninguém saberia como gerir os destinos da F1). Mackenzie teve de ligar a Gerard Lopez, patrão da Lotus, descansando as equipas no que diz respeito ao dinheiro.
As equipas correram, deram espectáculo aos fãs, mas a promessa não foi esquecida e paira no ar outra vez a ameaça de boicote à corrida do Brasil, caso as medidas não sejam implementadas.
E que medidas são essas? Muito simples, as equipas médias e pequenas querem receber mais dinheiro. A competição é cara e os lucros não são divididos equitativamente com grande benefício para as equipas grandes. É necessário portanto canalizar mais dinheiro para as equipas mais pequenas. Como? De duas formas: ou as equipas grandes entram em acordo e abdicam de uma parte dos seus ganhos (algo que está muito longe de acontecer) ou então os donos da F1 tem de abrir os cordões à bolsa e dar dinheiro às equipas.

Mackenzie já disse que não havia problema se ele ficasse a perder com esta situação e que ia arranjar o dinheiro, mesmo que Bernie fosse contra. Fala-se de 128 milhões de euros a serem entregues às equipas mais pequenas, como pagamento base. Mas é óbvio que é necessário uma mudança na filosofia da F1.
No ano passado a F1 gerou 1018 milhões de euros em lucros. Dessa soma, 63% foi entregue às equipas. Mas não de forma equitativa, pois o dinheiro é entregue em forma de prémios monetários, consoante a importância da equipa e a sua classificação.
Equipas como a Ferrari, Red Bull e McLaren dividem entre si 76 milhões por terem sido campeãs. A Ferrari recebe mais um prémio por longevidade que pode atingir os 48 milhões.
Tudo isto somado dá uma tabela com este aspecto:
Prémios, em milhões de euros, entregues às equipas em 2013:
Ferrari: 133

Red Bull: 129
McLaren: 76
Mercedes: 74
Lotus: 51
Force India: 47
Williams: 44
Sauber:42
Toro Rosso:39
Caterham :24
Marussia:7

Como se pode ver por aqui não é uma distribuição muito justa do muito dinheiro que a F1 movimenta. E é óbvio que as equipas pequenas ficam muito prejudicadas, e mesmo que queriam tentar crescer, não têm o apoio do organismo que havia de as ajudar, para melhorar o desporto. Não se trata de ajudar os pobrezinhos, mas sim arranjar mecanismos para que as equipas mais pequenas consigam bater o pé às grandes. No ano passado a Lotus, com um orçamento bem inferior à McLaren e à Ferrari, conseguiu fazer melhor. Sinal que quando se gasta muito dinheiro não implica que se ganhe. Mas uma coisa é inevitável. Quando não se tem dinheiro não se pode correr.
Lopez afirmou que para ter um carro como queria, com melhorias em todas as corridas, tornando-o competitivo, necessitaria de 166 milhões para o fazer. Um número que está bem abaixo dos orçamentos da Ferrari, da Red Bull da McLaren e da Mercedes. As equipas pequenas não pedem que façam o trabalho por elas. Mas que sejam dadas condições para poderem crescer e tornar a modalidade mais competitiva.
No meio desta história quem saiu prejudicado mais uma vez foi a F1, que se vê envolvida numa história que pouco tem de positivo. E Bernie também ficou a arder. Ter visto o grande dono da F1 assumir a situação sem lhe perguntar nada, foi um golpe na autoridade do tio Bernie. Além disso, assumiu que a culpa da situação era dele e que não sabia como resolver a situação. Ficou mal na fotografia e pode ser o início do fim para Bernie.
Quanto às equipas grandes, entende-se que não queiram ficar sem o dinheiro que foi acordado receberem, mas terão de chegar à conclusão que a F1 precisa das equipas mais pequenas para existir e que a ideia dos 3 carros não tem muito futuro. O grande circo nunca foi conhecido pela sua solidariedade e todas as equipas fazem questão de espremer ao máximo toda a vantagem que possam ter. Mas neste caso, se não forem feitas cedências todos podem ficar a perder.
Fábio Mendes