Entrevista a Julianne Cerasoli

header_blog_id_10A F1 ainda é alvo de muita paixão um pouco por todo o mundo. No Brasil essa paixão ainda se mantém viva e são muitos os interessados na modalidade. Achamos que seria interessante conhecer uma opinião do outro lado do Atlântico. Resolvemos tentar a opinião, não de um fã qualquer, mas sim de Jullianne Cerasoli, jornalista, que escreve para o site TotalRace. Já seguimos o trabalho da Jullianne há algum tempo e apreciamos muito a grande qualidade dos seus textos. Resolvemos arriscar e pedir a Julianne para nos responder a algumas perguntas, o que foi prontamente aceite. Fica aqui o resultado da entrevista. A F1, no feminino, vista por quem sabe.

 

Antes de mais, queria agradecer por aceder ao nosso convite e responder a algumas perguntas. É para nós um privilégio poder partilhar as suas ideias.

 

De onde vem a paixão pela F1?

O gosto pela Fórmula 1 se mistura com as primeiras memórias que tenho da minha infância. Assistir às corridas de Ayrton Senna ao lado de meu pai era como um ritual. Mesmo após a morte do piloto, sempre acompanhei a categoria e almejei trabalhar dentro dela.

 

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foto: XPB images

O que a fascina na F1? Qual o ou os motivos que a fazem gostar deste desporto?

Não gosto particularmente dos carros ou da velocidade, mas sim do fato de que os melhores de diversas áreas – pilotos, engenheiros, etc. – estão reunidos para competir no mais alto nível. E também gosto da complexidade: para ser vencedor na Fórmula 1, você precisa saber gerir o lado humano, o lado técnico e o lado político.

 

Quais as primeiras memórias que tem da F1?

Curiosamente, lembro de uma derrota dolorida para mim: quando Senna perdeu para Prost o título de 1989. São memórias fragmentadas – do alto dos meus então cinco anos, não entendia exatamente o que tinha acontecido. Mas jamais esqueci aquele dia.

 

 

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foto: S/F

Houve ou há algum ídolo em especial?
Senna foi muito especial para nós brasileiros não apenas por sua qualidade na pista. Vivíamos um período difícil economica e politicamente, nos sentíamos inferiores. E ele, carregando nossa bandeira com orgulho a cada conquista, nos fez acreditar que nós, brasileiros, também podíamos vencer.

 

Alguma corrida ou evento que a tenha marcado especialmente?

O GP de San Marino de 1994 foi obviamente marcante, mas prefiro ficar com outro tipo de lembrança. O GP do Brasil de 2008 foi o primeiro que assisti nas arquibancadas em Interlagos e foi inesquecível, com todas as suas reviravoltas. Senti-me parte da história.

Como começou a sua aventura pela escrita? O que a levou a escrever sobre a modalidade e quando começou?

Desde a minha infância eu tinha um plano claro na minha mente: queria ser jornalista de Fórmula 1. Comecei a escrever o que acreditava ser matérias jornalísticas quando tinha uns 10 anos! Na verdade, eram relatos simples sobre as corridas. Profissionalmente, comecei com um blog, em 2010. Poucos meses depois fui contratada e, em 2011, cobri minha primeira prova in loco.

 

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foto: S/F

Não sentiu diferença no tratamento por parte de quem lia o seu material por ser mulher?

Bastante. Várias vezes li comentários do tipo “fiquei surpreso quando vi que uma mulher tinha escrito isso”. É um preconceito obviamente infundado, mas que tende a ir desaparecendo a cada texto. Ao longo do tempo o que prevalece não é o sexo, e sim a qualidade do trabalho.

 

Acha que os blogs são as ferramentas de informação do futuro no que diz respeito à F1?

Seria um contra-senso da minha parte dizer que não, pois foi minha porta de entrada. Inclusive, considero uma ferramenta do presente, e não do futuro. Mas é preciso cuidado. A internet abriu portas para todos: para quem tem comprometimento jornalístico, assim como para quem fica jogando irresponsabilidades ao vento. Seja qual for a ferramenta – internet, TV, jornais – cabe ao público ter cuidado para discernir suas fontes.

 

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foto: S/F

Como tem visto a evolução da F1? Acha que se tem caminhado para o rumo certo?

Em termos de tecnologia, certamente. A competitividade das corridas e a qualidade do grid também têm caminhado bem – épocas de domínio são normais na história, mas o que importa é que, pelo menos, as corridas em si sejam interessantes, e têm sido nos últimos cinco anos pelo menos. Em termos políticos e de gestão, contudo, é impressionante a falta de senso comum. Nesse sentido é preciso que a Fórmula 1 seja mais equilibrada e estável.

 

O que achou das mudanças introduzidas em 2014? Pensa que favoreceu a competição ou pelo contrário vieram fazer mais mal do que bem?

Acho cedo para julgarmos o que tais mudanças farão para a competição. O que vimos até agora foi a competência de quem entendeu exatamente os preceitos dessa nova Fórmula 1. Os carros atuais, esses sim, me agradam. Eles têm uma tecnologia mais revelante, são mais difíceis de pilotar e menos dependentes da aerodinâmica. Gostaria que fosse feito mais  nesse sentido, como a introdução de pneus mais largos e o aumento da importância da aderência mecânica. Mas a direção, no geral, é saudável.

 

foto: Getty Images/Tom Pennington
foto: Getty Images/Tom Pennington

Qual a sua opinião sobre a época 2014? Quais foram para si as desilusões e as surpresas positivas?

Tive três grandes surpresas: a tranquilidade de Daniel Ricciardo em sua primeira temporada em um time de ponta, a evolução que Lewis Hamilton demonstrou em cada passo de seu bicampeonato, e a incompetência da Ferrari, que tinha, como time de fábrica, todas as condições de sair na frente em uma mudança de regras que priorizava o motor. O salto da Williams era esperado, mas veio mais cedo do que eu previa. Já a grande decepção para mim foi Kimi Raikkonen: esperava que ele perdesse o duelo interno para Fernando Alonso, mas não que se tornasse apenas uma sombra daquele Kimi da Lotus.

 

Qual foi o seu top 3 dos pilotos?

Ricciardo foi irretocável, soube atacar nos momentos certos e usar a cabeça quando precisou; Hamilton mudou sua abordagem nas corridas e foi se tornando cada vez mais imbatível ao longo do ano e Alonso foi consistente como sempre, mesmo com um carro bastante difícil.

 

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foto: XPB images

Qual é para si o melhor piloto da actualidade?

É uma pergunta sempre difícil. Quando Vettel estava ganhando tudo, muitos se apressavam em dizer que ele seria o melhor de todos os tempos. E eu dizia: esperemos até ele ter um carro em que não se sente confortável. Não que eu achasse que ele não se daria bem, mas simplesmente porque ainda não tínhamos visto essa situação. Dito isso, por ter se mantido em um nível alto sob diversos regulamentos e carros com comportamentos diferentes, eu escolheria Alonso como o melhor hoje.

 

O que espera da época 2015? Qual o seu prognóstico?

Acredito que veremos mais um duelo interno na Mercedes pelo título, mas desta vez com alguns outros atores se colocando na luta por vitórias ocasionalmente. E estou curiosa para ver se Rosberg consegue dar um passo adiante para enfrentar um Hamilton ainda mais confiante do que em 2014.

 

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foto: XPB images

O que pensa da crise que afecta a F1? Acha que as equipas pequenas não têm lugar no grid, ou acha que a ganância da FIA da FOM e das equipas grandes estão a prejudicar a modalidade?

O que são equipes pequenas, afinal? Pela atual situação, talvez terminaremos o ano classificando Sauber, Force India ou Lotus dessa maneira, tamanha a dificuldade financeira que eles vêm enfrentando. Com senso comum e conectando-se com o que o público realmente deseja ver a Fórmula 1 pode existir de maneira sustentável. Dinheiro não falta, pois trata-se de um dos campeonatos com maior faturamento no mundo.

 

A Williams tem agora no seu comando a Claire Williams, tem como piloto de reserva a Susie Wolff e na Sauber está a Monisha Kaltenborn. Acha que elas são a prova que há lugar na F1 para as mulheres e que estas deviam ter um papel mais activo na modalidade?

Pessoas competentes merecem papeis ativos na Fórmula 1, independente de sexo. E, particularmente na Monisha, vejo uma pessoa com um background completamente distinto de seus pares e com ideias úteis para o crescimento sustentável e comum da categoria.

 

Qual o seu grande sonho para o futuro?

Meu objetivo por ora é ter a chance de cobrir toda a temporada in loco e me focar exclusivamente à Fórmula 1.

 

 

Mais uma vez queremos agradecer a Julianne a sua disponibilidade para responder as nossas perguntas, aproveitando para lhe desejar as maiores felicidades para o futuro.

 

Fábio Mendes

Pedro Mendes

 

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