Depois de abordada a vinda do WRX a Montalegre, cuja a prova decorreu este fim de semana, lançamos agora a segunda parte da entrevista a Eduardo Ferreira, onde abordamos mais em pormenor o WTCC, o prato forte deste ano em Vila Real. Uma prova de renome que vem confirmar o excelente trabalho das entidades responsáveis, devolvendo à glória merecida o traçado transmontano.
Em relação ao WTCC como estão a correr as coisas?
Até agora está tudo dentro da normalidade. Os prazos estão a ser cumpridos e está tudo a decorrer dentro do que estava planeado. Este ano, com a implementação de novas medidas de segurança, vai haver mais trabalho mas está tudo a correr dentro do previsto. Ainda há pouco tempo esteve em Vila Real o médico da FIA para avaliar as condições. Temos uma limitação que é o hospital não ter neurocirurgia, nem unidade de queimados, mas até isso já está praticamente tratado. A avaliação foi bem positiva. Para terem a noção a nossa “marcha de urgência” do circuito ao hospital é de 4min, quando o mínimo exigido pela FIA são 10min. Os acessos que permitem a saída do circuito estão todos assegurados e está tudo organizado para que, em qualquer circunstância os tempos sejam os mais baixos possíveis.
As negociações foram difíceis para trazer o WTCC?
Não foram difíceis. Havia vontade por parte da APCIVR, do clube e da câmara para internacionalizar o circuito. A vontade era trazer outra modalidade, como o FIA GT ou a SEAT LEON CUP. Havia já muito trabalho feito quando a câmara do Porto não quis organizar a ronda portuguesa do WTCC, o que fez com que a FPAK indicasse Vila Real como possibilidade. As várias partes aceitaram o desafio. A FIA veio ver as nossas condições e como temos organizado as provas nacionais. Foi entregue o caderno de encargos e para nosso espanto não tínhamos muita coisa a alterar. Mesmo o médico FIA admitiu que já temos coisas que que muitas provas do campeonato do mundo não têm.
O valor de 1.6 milhões que foi veiculado é o correcto?
Sim e a grande parte desse bolo vai ser gasto em segurança. É a nossa principal prioridade, mas claro, também depende muito dos espectadores. São eles que tem de evitar comportamentos de risco.
Em relação à recta de Mateus, falou-se muito em alterações. Pode confirmar se de facto isso vai acontecer ou não?

O formato do traçado vai ser igual ao do ano passado. Ou seja, a chicane vai ser colocada no mesmo sítio, com algumas alterações necessárias para receber este evento, mas no geral, excepto a rotunda de Mateus que já foi eliminada, que dará origem a uma curva mais pronunciada e a saída das boxes que vai implicar uma primeira curva também mais acentuada, o traçado será igual. Neste momento não temos a chicane mais bonita, mas é a necessária por motivos de segurança. Segurança ao nível do público. Como o público adere muito a essa zona temos de reduzir a velocidade dos carros, a fim de evitar problemas.
E em relação à largada?
Vai ser directa. A largada vai ser em frente e depois essa secção será fechada, como tem sido feito no passado.
Acha que os transtornos que o WTCC vai causar vai esmorecer o ânimo que se vive na cidade?
Sinceramente, acho que não. Na nossa organização temos de pensar nas pessoas que não gostam de corridas e vamos dar as condições mínimas a essas pessoas. Mas como vilarealense mesmo que não gostasse de corridas, acho que aceitaria de bom grado os transtornos, pois este evento vem dar um pontapé no marasmo que se vive neste momento nesta região. É a isso que nos propomos. Ajudar a região também a crescer, graças a este evento e ao retorno que possa vir daí.
O piso vai ser renovado?

A jurisdição do piso do traçado cabe a duas partes. O antigo circuito cabe a Estradas de Portugal e a parte nova, à autarquia. Da parte de autarquia já está acordado e mesmo as melhorias na parte pertencente as Estradas de Portugal, estão bem encaminhadas. Não vai ser feita a substituição total do asfalto, mas serão feitas remodelações necessárias até nas tampas de esgotos que terão de ser seladas.
Vai ser um fim-de-semana recheado de corridas. Em termos organizativos é um problema?
Não, de todo. Já organizamos fins de semanas com mais provas. Para esse fim-de-semana temos o WTCC, CNV, CNC, FEUP e troféu Abarth, repartidos por 3 dias. Mas daqui até lá, ainda poderá haver alterações. E já que fechamos a cidade e impensável fazê-lo só por uma ou duas provas.
No início, achava que havia capacidade para organizar um evento desta envergadura?
O WTCC deve-se a 3 partes. A APCIVR , a câmara e o clube. Nenhumas dessas 3 partes podem ser dissociadas, mas quem está por dentro das corridas sabe que isto se faz. Basta haver vontade das partes envolvidas. O clube a nível desportivo nunca teve medo da organização do evento. As nossas equipas dão 100% de si, sem receberem nada em troca. E daí conseguirmos ter um custo mais baixo em relação ao Porto por exemplo.
Há hipóteses de voltar a ter o Rally em Vila Real?

Sim, há essa hipótese. O rally implica uma mobilização de meios maiores, mas até isso seria feito com relativa facilidade. O grande problema é que é preciso organizar provas mais baixas antes de voltar a organizar o nacional. Para isso é preciso haver vontade e condições na cidade para que isso seja feito. O clube só por si não pode fazer isso. Havendo vontade das várias partes é possível fazer. Não é uma prioridade para já, mas a porta está aberta.
Nota que agora há mais abertura para organizar as provas?
Há uma grande diferença entre os campeonatos nacionais e os internacionais. As competições nacionais tem uma limitação grande, pois o parque automóvel é pequeno . Os campeonatos nacionais vivem muito de empresas que vão ajudando e essas são poucas. Em relação aos campeonatos internacionais, a abertura é muito maior e há mais vontade de participar por parte das empresas e até das localidades, o que é também ajudado pelos promotores. Os promotores nesse aspecto têm um papel muito importante. No campeonato nacional de Rallycross este ano vai haver um promotor. No CNV, de vez em quando, há alguns conflitos de interesses entre os vários promotores e isso talvez dificulte a exposição do CNV.
Agradecemos a Eduardo Ferreira a disponibilidade que teve em nos receber e responder às nossas perguntas.

Design: Cris Fernandes
Equipa Chicane