O WEC rumou até Spa-Francorchamps para mais uma prova de seis horas, mas que também já serve de barómetro e de preparação para as 24 Horas de Le Mans em junho.
Le Mans Prototype 1 (LMP1)

Para esta prova, Porsche e Audi colocaram três carros cada, como uma forma de preparar as 24 Horas de Le Mans. Na Audi, Filipe Albuquerque pilotou o R18 e-tron quattro (#9) com Marco Bonanomi e René Rast. Na Porsche, o terceiro carro teve como pilotos Nick Tandy, Earl Bamber e o piloto de Fórmula 1 na Sahara Force India F1 Team, Nico Hülkenberg.
A Toyota manteve dois carros, mas durante os treinos ficou sem Kazuki Nakajima no carro #1. O japonês teve um acidente com o Audi (#8) de Oliver Jarvis. Com a chuva, Nakajima não conseguiu ver Jarvis à sua frente e bateu na traseira do Audi, e fraturou uma vértebra, deixando o carro #1 com apenas dois pilotos. Será difícil para o japonês participar em Le Mans. Kamui Kobayashi pode ser a primeira escolha da Toyota para Le Mans.
No arranque da corrida os Porsche 919 Hybrid #17 e #18 mantiveram-se na frente do pelotão e o Audi R18 e-tron quattro #7, passou o Porsche #19 para o 3º lugar.
O Porsche #19, com Nick Tandy ao volante, na curva Fagnes, tentava dobrar o Porsche 911 (991) RSR (#91) de Kévin Estre. O francês voltou à linha de trajetória no último momento à entrada da curva e Tandy tocou-lhe, danificando bastante a frente do seu 919 Hybrid. As reparações custaram-lhe três voltas, e também deram uma penalização a Estre.
Pouco depois, o Porsche #17, a liderar a corrida com uma margem sólida, com Brendon Hartley ao volante, saiu em frente na última chicane do circuito e não voltou ao ponto em que estava na pista, preferindo passar por entre as barreiras e fazendo com que os comissários de pista tivessem que sair da frente. O Porsche recebeu uma penalização de 15 segundos e entregou a liderança ao carro #18 de Romain Dumas/Neel Jani/Marc Lieb, que se tinha descolado dos Audi atrás de si.
O Porsche #17 estava a recuperar posições quando à terceira hora teve um problema na suspensão traseira.
Na quarta hora de prova, o Audi (#8) teve um pequeno problema eletrónico e perdeu algum tempo, ao mesmo tempo que o Audi #7 decidia não trocar os pneus e conseguia passar para o comando da prova, na frente do Porsche #18 por 10 segundos. O resto do pelotão estava já a uma volta de distância.
O Audi #8 voltaria a sofrer o mesmo problema poucas voltas depois e teve que voltar às boxes. Após ter mudado o ECU, e a frente do carro, que tinha danos após um toque, o carro voltou ao normal. Mais tarde, uma ida às barreiras em Stavelot deixou o carro no 7º lugar, onde iria terminar a corrida.
Os Toyotas tiveram dificuldades em acompanhar o ritmo dos líderes. O TS040 Hybrid (#1), que foi o carro que ficou danificado nos treinos, apenas com Anthony Davidson e Sébastien Buemi teve problemas elétricos que, em consequência, causaram problemas no acelerador e na caixa de velocidades, e perdeu algum tempo em reparações, sendo obrigado a parar duas vezes à 4ª hora de prova. O carro dos campeões em título terminou apenas em 8º.

À entrada das últimas duas horas, Marc Lieb, no Porsche #18, começava a atacar o Audi #7 de André Lotterer, que tinha os seus pneus no final de um turno duplo. Lotterer mostrou ser muito duro e não deixou passar o Porsche, que em Stavelot teve um momento assustador com uma ida à gravilha e a voltar a alta velocidade à pista após passar um LMP2, mas sem causar dano.
O Audi parou exatamente a duas horas do fim, colocando combustível e quatro pneus, numa paragem muito rápida, e o Porsche recuperava o comando da corrida. Na volta seguinte, a Porsche decide responder com uma paragem apenas para combustível, mantendo a liderança com pouco mais de 10 segundos de diferença.
Benoît Tréluyer, com pneus novos no Audi #7, reduziu totalmente o défice para o Porsche #18 de Marc Lieb a uma hora e meia do fim. Em La Source o Audi passou para a frente, mas apesar da velocidade em reta entre Audi e Porsche não ser tão diferente em Spa, o Porsche aproveitou a potência híbrida para voltar a liderar… mas não por muito tempo. Na curva 11 os carros tocaram-se e em Fagnes, Tréluyer ignorou as leis da física e passou o Porsche por fora!
Com uma hora e 26 minutos para o fim, o Porsche #18 decide parar nas boxes mais cedo, com os pneus a não parecerem em muito bom estado. Neel Jani passou para o volante, tendo que recuperar um minuto para o Audi.
Quinze minutos depois o Audi para nas boxes apenas para combustível e saiu das boxes com 10 segundos de vantagem. Faltava apenas uma paragem curta para ambos os carros.
O Porsche reduziu a diferença e na reta Kemmel passou facilmente o Audi, a 41 minutos do fim. Três minutos depois faz uma paragem nas boxes, mais cedo do que se previa, apenas para combustível.

O Audi ficou em pista mais seis voltas, apesar dos pneus estarem muito desgastados e, incrivelmente, Tréluyer consegue ganhar alguns segundos importantíssimos. O Audi parou, colocou pouco combustível e voltou à pista com 13 segundos de vantagem para o Porsche.
A situação ficou inalterada. Marcel Fässler, Benoît Tréluyer e André Lotterer vencem pela segunda vez consecutiva com o Audi R18 e-tron quattro (#7). Duas vitórias em duas corridas para a Audi esta temporada são uma ligeira surpresa para muitos.
Marc Lieb, Romain Dumas e Neel Jani levaram o Porsche #18 ao 2º lugar e o Porsche #17 de Timo Bernhard/Mark Webber/Brendon Hartley, apesar dos contratempos com a penalização de Hartley e do atraso com a suspensão traseira, terminou em 3º, a uma volta do vencedor.
O Audi #9 de Filipe Albuquerque rodou bem durante a corrida, lutando por posição com os Toyotas. Apesar de um problema na porta durante a corrida (a janela saltou da porta na reta Kemmel), e conseguiram terminar na frente dos Toyotas, no 4º lugar. Um bom ensaio para Le Mans.
Le Mans Prototype 2 (LMP2)

No arranque, o Morgan LMP2 Evo (Judd #43) conseguiu passar para a frente da classe, mas ainda na primeira volta, o Ligier JS P2 (Nissan #26) e o Gibson 015S (Nissan #38) (este chassis era denominado anteriormente Zytek Z11SN) da Jota Sport, que veio do European Le Mans Series para esta prova e para preparar Le Mans, passaram para a frente, mas o Gibson iria receber uma penalização porque Harry Tincknell fez falsa partida e era obrigado a deixar a liderança dos LMP2, deixando os dois Ligier JS P2 Nissan da G-Drive na frente, com o carro #26 de Roman Rusinov/Julien Canal/Sam Bird na frente.
O Gibson #38 recuperou muito depressa da penalização, com Harry Tincknell e Mitch Evans a darem tudo por tudo e não demoraram muito tempo para voltarem ao comando da classe.
Simon Dolan foi o mais lento dos rapazes da Jota Sport e viu os Ligier aproximarem-se durante a 4ª hora, mas Tincknell e Evans voltaram a controlar os carros atrás de si com facilidade.
A uma hora e 22 minutos do fim houve drama. O Ligier JS P2 Nissan (#26), com Sam Bird ao volante no 2º lugar, em perseguição ao Gibson Nissan começou a deitar fumo e a andar devagar. Bird conseguiu levar o carro até às boxes, mas só voltou à corrida na última volta, para ficar classificado no último lugar da geral, marcando alguns pontos.
Harry Tincknell, Simon Dolan e Mitch Evans venceram com facilidade a classe com o Gibson 015S (Nissan) #38, com uma volta de vantagem para o Ligier JS P2 (Nissan) (#28) de Gustavo Yacamán/Ricardo González/Luís Felipe “Pipo” Derani, e a fechar o pódio ficou o Morgan LMP2 Evo Nissan (#43) da SARD Morand (Oliver Webb/Pierre Ragues/Zoël Amberg).
Le Mans Grand Touring Endurance Professional (LMGTE Pro)

A Aston Martin partiu à frente da classe no arranque, com o Aston Martin Vantage V8 GTE #97 a passar o #99. Nesta classe houve uma grande variedade de estratégias, com o Aston Martin #97 a fazer uma paragem programada numa jogada estratégica ao fim de 30 minutos de corrida, deixando o Aston Martin #99 na frente da corrida durante algum tempo.
Após a penalização de Kévin Estre, o Porsche 911 (991) RSR (#91) recuperou terreno, para voltar a perder tempo com uma penalização por ignorar bandeiras azuis e, mais tarde, por exceder os limites da pista na curva 1.
À terceira hora os dois Ferrari 458 Italia GT2 da AF Corse estiveram perto de estragar as suas corridas na chicane da “Paragem do Autocarro”. Um toque do Ferrari (#71) no Porsche 911 (991) RSR (#88) da classe LMGTE Am deixou ambos os carros a fazerem um pião. O Ferrari (#51) vinha logo atrás e foi forçado a tomar uma ação evasiva.
Devagar, mas de forma consistente, o Porsche 911 (991) RSR (#92) de Richard Lietz e Frédéric Makowiecki começava a ganhar terreno, estabelecendo-se no 3º lugar da categoria na segunda metade da corrida, e atacava o Ferrari #51 de Gianmaria Bruni e Toni Vilander. Infelizmente, o progresso do Porsche seria interrompido com uma penalização por exceder os limites da pista.
Isto deixou o Ferrari #51 a lutar com o Aston Martin #97 pelo 2º lugar, com ambos os carros a trocarem posição à medida em que faziam paragens, em alturas diferentes. A uma hora e 22 minutos do fim, o Ferrari passou o Aston Martin para o 2º lugar.

À entrada da última hora de prova, o Ferrari recuperava depressa o atraso para o líder da classe, o Aston Martin #99 (Fernando Rees/Alex MacDowall/Richie Stanaway), que liderava a corrida desde a primeira hora.
Gianmaria Bruni conseguiu passar Alex MacDowall na chicane a exatamente uma hora do fim. A Aston Martin reagiu rapidamente ao trazer MacDowall para as boxes, colocando combustível e pneus novos até ao final. Na volta seguinte, Bruni faz também a última paragem (pneus e combustível) mas o Aston Martin saiu na frente.
Bruni encostou a Fernando Rees mas aconteceu um volte-face: o Ferrari recebeu uma penalização de um minuto porque a equipa não controlou os pneus nas boxes. Rees deixou passar Bruni (que vai cair para o 4º lugar da geral), e o brasileiro levou o seu Aston Martin até ao fim para vencer a classe, juntamente com Richie Stanaway e Alex MacDowall.
Apesar de uma corrida cheia de imprevistos, dois Porsche ficaram em 2º e 3º, com o 911 (991) RSR #92 de Frédéric Makowiecki/Patrick Pilet e o #91 da nova dupla Kévin Estre/Sven Müller.
Le Mans Grand Touring Endurance Amateur (LMGTE Am)

Pedro Lamy, no Aston Martin Vantagem V8 GTE (#98) que dividiu com Paul Dalla Lana e Mathias Lauda, liderou a classe nas primeiras voltas. Pouco depois, o Ferrari 458 Italia GT2 (#72) da SMP Racing passou para a frente.
O Chevrolet Corvette C7.R (#50) da Larbre Compétition, no 2º lugar da classe, com Kristan Poulsen aos comandos, tentou evitar uma colisão com um dos Ligier da G-Drive em Stavelot e acabou por sair de pista e embater na barreira, perdendo demasiado tempo e danificando o carro. Apesar de ter sido ajudado a sair da gravilha, Poulsen não conseguiu trazer o carro de volta às boxes.
Nesta altura (à terceira hora), o Aston Martin #98 recuperava a liderança da corrida, e no segundo lugar, Rui Águas, no Ferrari 458 Italia GT2 (#83) que partilhou com François Perrodo e Emmanuel Collard, recuperava até ao 2º lugar. O Aston Martin depois fugiu da concorrência ao construir uma vantagem de quase 1 minuto e meio para o Ferrari.
As posições não se alteraram. Lamy, Lauda e Dalla Lana conseguem a segunda vitória em duas corridas esta temporada no Aston Martin. Incrivelmente, o pódio de Spa-Francorchamps é uma repetição do pódio de Silverstone, com Rui Águas, Emmanuel Collard e François Perrodo em 2º no Ferrari e a fechar o pódio ficaram Viktor Shaitar/Aleksey Basov/Andrea Bertolini no Ferrari 458 Italia GT2 (#72).
Jorge Covas
Um pensamento sobre “WEC – 6 Heures de Spa-Francorchamps”