Quando Alonso era Nando
Corria o ano de 1984. José Luís Alonso era um homem desdobrado em vários papéis. Marido dedicado, pai de dois filhos, trabalhador de uma mina, entusiasta do karting. Esse entusiamo levou-o a avançar com um sonho: construir um kart. Na sua ideia, este kart iria apaixonar a sua filha de 8 anos, Lorena, pelo mundo da competição motorizada.
Inicialmente Lorena acompanhou o sonho do pai, chegando a participar em provas amadoras. Mas rapidamente o interesse se esmoreceu e ela desistiu da competição, deixando o kart ao abandono. “Bem, se ela não o quer fica para o irmão…”, pensou José. E apesar dos seus tenros 3 anos, Nando adorou a prenda. Tal pintor que recebe a sua tela, Nando viu no kart uma forma de expressar a sua originalidade e criatividade. Para que pudesse conduzir, José teve de adaptar o kart ao tamanho do minúsculo Nando, pois os seus pés não chegavam aos pedais.
No início, Nando conduzia apenas pela diversão. Mas aos poucos, José viu nele algo mais. Não era suposto um miúdo de 6 anos demonstrar tanta maturidade ao volante. E muito menos ter mais destreza que outros de 10 e 12 anos.
Nos 4 anos seguintes, Nando foi brincando com o seu kart até conseguir a licença oficial da Federação Espanhola. A partir dai tudo se desenrolou muito rápido. Aos 7 anos, conquista o seu 1º campeonato, saindo vitorioso em todas as 8 corridas. Aos 8 é campeão regional de karts, onde começou a criar a imagem de Príncipe das Astúrias. Sem certezas se Nando viria a singrar no desporto motorizado, a sua família garantiu que ele cumpria a escolaridade própria da idade. O sonho era grande, mas tinha de haver um plano B.
No entanto, a sua ascensão meteórica levou a que a família rapidamente percebesse que não é fácil suportar financeiramente a subida de categoria. Numa altura em que José antevia o fim do sonho, Nando é salvo por um patrocinador de karts, Genis Marco. Tal como José, Genis viu o talento em estado bruto. Restava-lhe apenas ser um dos muitos delapidadores que o ajudaria a chegar ao estrelato.
E de campeão das Astúrias, passou para o Pais Basco e depois para Espanha. Aos 10 anos, o país fica pequeno para tantas conquistas. Procurando sempre mais, Nando participou no seu 1º campeonato do mundo, terminando em 3º lugar. O lugar mais alto do pódio ficou para Raikonnen. É preciso um prodígio para lutar de igual para igual com outro prodígio. Mas o 3º lugar apenas o espicaçou mais. Voltaria a ser campeão em Espanha, Itália e de toda a Europa. E voltou a ter a sua desforra quatro anos mais tarde, conseguindo atingir o tão desejado titulo mundial. Nos seus tempos livres, ficava a afinar o seu kart ou a servir de mecânico a karts de miúdos mais novos. Mais do que o dinheiro do biscate era o prazer que aquilo lhe dava.
Aos atingir 18 anos, o kart ficou pequeno para tanta ambição. Disposto a provar que a utilização de uma caixa de velocidades não afectava o seu estilo de condução, seguem-se a Formula Nissan e a Formula 3000, com várias poles positions, voltas mais rápidas e vitórias em Grandes Prémios. Em menos de dois anos, o rookie chamou à atenção da categoria máxima, entrando para a F1 através da Renault, pela mão de Flavio Briatore. Seria emprestado à Minardi, equipa sem recursos e dinheiro na altura. Não seria o lugar de sonho, mas o perfil combativo de Nando trouxe ao de cima algo que ainda hoje o faz ser um dos melhores: fazer muito com pouco. No ano de estreia, bateu regularmente em qualificação os colegas de equipa Alex Yoong e Tarso Marques, conseguindo ainda arrancar a ferros um 10º lugar no GP alemão. Mostrou ao mundo que dentro de um carro, ele consegue extrair tudo e ir ainda mais além.
E nessa altura o pequeno Nando tornou-se Fernando Alonso.
(continua…)
Marcos Gonçalves
4 pensamentos sobre “F1: Fernando Alonso – O melhor piloto desta geração?”