
Nos últimos 12 meses muitas foram as críticas aos compostos de borracha apresentados pela Pirelli. Assumindo que uma equipa investe milhões de euros e milhares de horas na afinação dos monolugares, torna-se complicado deitar tudo a perder ao introduzir a incógnita trazida pelos pneus da marca italiana. Da perspetiva do piloto a situação também não é melhor, pois não consegue atacar de forma regular, com a performance do pneu a cair demasiado rápido. Aliás, como referimos num artigo anterior, a Mercedes travou recentemente uma grande batalha contra a falta de aderência dos super-macios em Singapura.
Recentemente as vozes críticas pediram o regresso da Michelin, já na posse de ideias revolucionárias para o futuro da F1. Mas antes de abordar as novidades da marca francesa, sejamos pragmáticos: Bernie Ecclestone apenas irá considerar esta hipótese se a Michelin pagar mais que a Pirelli. Atualmente os italianos pagam à FOM cerca de 36M€/ano para verem o seu nome exposto nos placards em redor das pistas. Se os franceses subirem a parada, é certo que ideias disparatadas passam a ideias revolucionárias, num mero ápice.
Mas assumindo, que todos os membros da FOM andam nisto também pelo desenvolvimento da modalidade, vemos que as ideias francesas até poderão interessantes.
Pascal Couasnon, director da divisão de competição da Michelin, soube ouvir os críticos e promete pneus mais duradouros. Oferece duas opções: um pneu de melhor performance para rodar metade da corrida; outro pneu de menor performance para rodar 3/4 da corrida. No fundo está a prometer que depois de atingirem a temperatura ideal, cada jogo de pneus mantém a mesma performance ao longo de todo o stint. A promessa não é de todo descabida, pois Couasnon afirma que a produção de compostos semelhantes já dá cartas no WEC actualmente.
O francês reconhece também que foi mal interpretado quando referiu que queria jantes maiores na F1. A ideia inicial seria aproximar os atuais monolugares dos carros de estrada, subindo a parada de 13 para 18 polegadas. A alteração tem como objectivo facilitar que as novidades da F1 cheguem mais rapidamente aos modelos da série de produção, que actualmente usam medidas semelhantes. No entanto, a maioria dos engenheiros revelou que a ideia apenas iria deixar os carros mais lentos.
No entanto, a ideia de Couasnon é mais complexa: uma jante maior viria acompanhada de um pneu maior, isto é, o pneu passaria dos atuais 66cm de diâmetro para 72cm. Tal feito permitiria garantir um diâmetro exterior numa proporção mais ou menos idêntica ao que temos actualmente. Pois se a proporção não aumentasse,
ter uma caixa-de-ar mais pequena, que obrigaria a um aumento da pressão para manter o pneu em condições de utilização. E por norma, uma pressão maior implica uma perca de performance.

Mas a Michelin já tinha pensado nesse senão e idealizou um pneu com uma estrutura lateral mais reforçada (derivado do seu tamanho maior), originando menos deformação lateral e consequentemente, maior controlo do carro. E claro está, tendo um carro mais seguro em curva, é esperado que o piloto a percorra mais rápido. Depois de alguns experimentalismos com um monolugar da Formula Renault 3.5, os franceses conseguiram melhorar o tempo por volta em 1 segundo… Promissor. Para além disso, temos o factor emocional nos adeptos. Quem não gostaria de retomar o look de há 25 anos atrás, com pneus traseiros gigantes e com o carro de aspecto mais agressivo?
Mas a ideia continua a não ser bem aceite pelas equipas. Os engenheiros afirmam que a mudança de jante implicaria o redesenho do carro, pois muito do movimento da suspensão é definido em função do pneu. Uma crítica pouco fundamentada, pois as cabeças pensantes da F1 já estão a preparar as regras de 2017, que inclui a ideia de um pneu mais largo. Independentemente da Michelin ser fornecedora, o novo desenho dos carros já iria acontecer.
A nosso ver, o tira-teimas devia ser feito em testes com alguns dos monolugares do ano anterior. Ai conseguiríamos aferir de forma mais exacta o real impacto que as ideias da Michelin teriam no futuro da modalidade. Mas testes pagam-se e exigem boa-fé de todos os envolvidos. Actualmente a Pirelli tem um grande peso na FOM e usará todos os meios ao seu dispor para continuar a ter o monopólio do fornecimento de pneus.
Independentemente do que acontecer, de uma coisa temos a certeza: actualmente os pilotos e equipas não estão contentes. Logo, algo vai ter de mudar.
Marcos Gonçalves
Um pensamento sobre “F1: Michelin vs Pirelli”