Entrando na recta final do campeonato, chega altura de fazer um pequeno balanço entre o que foi investido e o retorno desportivo.
Para este ano foram definidos os seguintes orçamentos:
Curiosamente (ou talvez não) a equipa que mais investiu foi a que teve a maior queda até ao momento: Red Bull. Com um orçamento superior em 1.3M € comparativamente aos campeões do mundo, os austríacos abriram os cordões à bolsa na esperança de equilibrar os duelos em pista, esbanjando uns impressionantes 468.7M €. No entanto o actual 4º lugar do ranking mostra-nos que que o investimento tem-se revelado infrutífero, tendo já sido até ultrapassada pela modesta Williams com um orçamento 60% abaixo do seu. E estamos a falar de uma equipa-cliente que não tem custos de fabrico com unidades motrizes…
No que toca à proveniência, vou-me focar apenas no top 4: Ferrari, Red Bull, Mercedes e McLaren.
Transmissões televisivas

A Mercedes (3º lugar) elevou a sua posição devido ao domínio dos últimos dois anos e consequentemente aumento de fãs (principalmente em mercados asiáticos). Desde o regresso de Michael Schumacher que a evolução tem sido bastante significativa e caso (ou quando) ocorra o bi-campeonato podemos esperar que esteja no top 2.
No entanto o que a Mercedes tem agora já a RedBull (2º lugar) teve no passado. De 2010 a 2013 a equipa austríaca produziu uma revolução na F1, tornando-se tetracampeã e assumindo a postura da nova Ferrari. Vettel foi um dos principais obreiros desse feito, o que acabou por despertar a atenção dos fãs para o novo gigante. A juntar a isto, a marca de bebidas energéticas tem uma enorme máquina de marketing por trás, facilitando a disseminação do seu projecto motorizado. Atualmente, a RedBull continua a ser um dos principais pilares do chamariz das transmissões televisivas. Caso não voltem a ser competitivos, este número pode diminuir tão depressa como cresceu…
A Ferrari (1º lugar) continua a ser a marca F1 mais famosa do planeta. Apesar de não concordar com os moldes usados na distribuição destes lucros, é inegável a ligação, carinho e respeito que a maioria dos fãs tem pelo Cavallino Rampante. Mesmo não conquistando um título de construtores desde 2008 (de pilotos foi em 2007) continua a exercer a sua mística e a Formula 1 não seria a mesma sem ela.
O efeito historial também abrange a McLaren (4º lugar), empurrada principalmente pela nova ligação à Honda. A espectativa da parceria dourada que dominou a F1 no tempo de Senna e Prost vem aliada ao buzz gerado no mercado japonês, casa natal da Honda.
Patrocinadores & Parceiros
É engraçada a dicotomia a este nível: Red Bull e Ferrari são as que mais receitas extraem dos patrocínios e McLaren e Mercedes as que mais recebem dos parceiros. Sendo as equipas mais dominadoras dos últimos 15 anos, a Ferrari e a RedBull arrecadam os maiores valores, por norma com patrocínios vantajosos negociados muitas vezes a 6 e 8 anos. Mercedes e McLaren ligam-se mais a parceiros que pretendem potenciar o seu nome no grande circo. É previsível que se a Mercedes capitalizar mais 2 campeonatos e se torne um vencedor regular, consiga o mesmo estatuto que a Red Bull tem na captação de patrocínios.
De seguida temos a estatística das equipas com maior probabilidade de atacar o título e respectivos rácios de aproveitamento tendo em conta o orçamento:

Como seria de esperar a Mercedes domina em toda a linha: 24 em 26 pódios possíveis e 10 vitórias em 13. A Ferrari tem uma taxa de aproveitamento bastante positiva ao colocar por 11 vezes um monolugar nos 3 primeiros. No entanto, o aproveitamento cai a pique quando se trata do vencedor da corrida. Mas o prejuízo é menor, pois comparativamente aos principais rivais continua a anos-luz… Apesar da Williams ter um orçamento duas vezes mais pequeno que a Ferrari, poderíamos fazer um exercício redutor de que deveria obter pelo menos metade dos pódios da Scuderia (6). No entanto a Williams apenas conseguiu metade (3), ficando aquém do valor investido. Como já referi antes, a Red Bull continua bastante aquém, sendo o que mais dinheiro põe na mesa…
Apesar do orçamento significativo, a McLaren nem foi considerada pois o desempenho tem sido desastroso, pois para além de não contabilizarem nenhum pódio, ainda abandonaram 11 (!) vezes…

Resumindo: os 4 primeiros classificados possuem uma diferença de orçamento gritante para os demais. Caso a divisão (principalmente da TV/FOM) fosse feita de forma mais equitativa, as restantes equipas poderiam produzir um melhor monolugar e consequentemente aumentar o espectáculo da modalidade (não me canso de dizer isto…). Com melhores resultados, aparecem mais parceiros e patrocinadores.
Mas mesmo entre os 4 primeiros, o retorno desportivo da Mercedes anula por completo as aspirações dos restantes. A Ferrari produziu um investimento semelhante e já mostrou este ano estar no bom caminho, com 3 corridas ganhas e 11 pódios. Assumindo este como o ano zero sob a batuta de Maurício Arrivabene, é normal ocorrer um investimento maior para preparar as bases para o futuro. Se as melhorias para 2016 sejam exactamente o que Arrivabene promete, é esperado que um orçamento igual ou ligeiramente superior faça da Scuderia uma vencedora mais regular ao longo do ano.

A RedBull, depois de tanto dinheiro investido, continua a definhar. A Renault ainda não conseguiu produzir um motor competitivo e o dinheiro investido não pode ser justificado com apenas 3 pódios. Caso consigam assegurar os préstimos da Ferrari, o orçamento do próximo ano não irá divergir muito do atual, mas se mais uma vez falharem em apanhar as equipas da frente, possivelmente veremos uma queda nos valores de 2017.
A McLaren é sem dúvida a maior derrotada do ano. Sofreu do hype (agora visto como exagerado) do regresso da Honda à F1.Este hype movimentou dinheiro em todos os sectores, permitindo a contratação sonante de Fernando Alonso. O carrocel de patrocínios e parceiros já está em andamento, com uns a entrar e outros a sair. Resta saber quantos vão restringir o valor investido depois de verem um ano tão sofrível como este…
Obs: as contas apresentadas são anteriores ao GP do Japão.
Marcos Gonçalves