F1: Fernando Alonso – O melhor piloto desta geração? (parte III)

Terceiro artigo sobre a carreira de Fernando Alonso. Os primeiros artigos podem ser lidos aqui e aqui.

 

No sítio errado, há hora errada.

Final de 2005. A imprensa especializada procura explicar a razão da derrocada da Ferrari:

fernandoalonso_renault_monte-carlo_2006Como é possível uma equipa penta-campeã ter caído tanto em tão pouco tempo? Terá sido um erro de casting ao usar um monolugar de 2004 adaptado? Terá sido a fraca performance dos pneus Bridgestone? Será a limitação dos V10 a apenas 18000 rpms? Como é possível Schumacher fazer apenas 62 pontos, ficando a 71 pontos do 1º lugar?

Ninguém conseguia apresentar uma explicação concreta para tal declínio. Mas a resposta era demasiado simples, apesar de ninguém a querer ver: Alonso e o seu R25. Muitas vezes não está tudo mal no seio da nossa equipa… Simplesmente é preciso reconhecer que, naquele momento, alguém teve um desempenho melhor que o nosso. Como em tudo na vida, existem momentos-chave que se tiverem a estrelinha da sorte a acompanhar um esforço árduo e dedicação, irão dar frutos. E o espanhol fez isso: mostrou que ao nunca desistir, é possível quebrar o status quo e alcançar o topo da montanha.

foto in: projetomotor
foto in: projetomotor

No entanto, Alonso não ficou a repousar sobre os louros da sua conquista. Ele acreditava que 2006 seria o ano da afirmação. Se assim não fosse poderia ser recordado como um campeão de transição, “aquele que teve sorte…”. O ano começou de forma diferente, com a legalização dos motores V8 em prol dos V10, obrigando todas as equipas a repensar os seus projectos. A Renault lidou bem com a adversidade e soube encaixar um soberbo V8 num chassis perfeito, que nas mãos do Afinador tiveram o desfecho pretendido: Alonso Bi-Campeão do Mundo. Foi um campeonato mais equilibrado, colocando Schumacher no papel de candidato principal, conquistando 7 Grandes Prémios, os mesmos que Alonso. Mas repetindo a receita do ano anterior, Alonso foi mais consistente, somando mais sete 2ºs lugares. Em números, a época do espanhol resumiu-se a: 18 corridas, 7 vitórias, 14 pódios, 6 poles e 5 voltas mais rápidas.

Nesse ano Schumacher retirou-se da Formula 1, passando a batuta de melhor piloto em actividade para o espanhol. O alemão sempre o considerou como ‘O’ sucessor natural e em tom de brincadeira referia que ele poderia alcançar um sucesso idêntico ao seu na Ferrari. Fechado o ano, Alonso começou a definir o seu futuro. A porta da Renault continuava aberta, mas o espanhol queria novos horizontes, tentando materializar um namoro já antigo com a McLaren. E a partir dai até ao dia de hoje, o bi-campeão esteve sempre no sítio errado, há hora errada. Até ao momento, o espanhol mudou quatro vezes de equipa sempre em busca de um novo título, mas sem sucesso:

 

1º) Mudança para a McLaren

foto: F1Fanatic
foto: F1Fanatic

O namoro começou 1 ano antes e ficou oficializado em 2007. Mas não durou muito o estado de graça: Alonso chega à equipa de Ron Dennis com estatuto de primeiro piloto e assumiu que iria ter as melhores condições e estratégia de corrida. No entanto a posição do bi-campeão ficou em cheque quando um prodigioso rookie chamado Lewis Hamilton mostrou um desempenho notável no início do campeonato. Infelizmente para os dois, a McLaren não soube lidar com o facto de ter dois bons pilotos em luta pelo título e os constantes jogos de bastidores para privilegiar um em função do outro levou a que Raikonnen ganhasse o título nesse ano. E a estatística mostra-nos que no final ambos ficaram empatados em 2º lugar com 109 pontos, vencendo cada um 4 GPs. Resumindo: um não foi melhor que o outro.

E a meio do campeonato o temperamento de Alonso veio ao de cima. Irritado por estar a ser posto em causa por um rookie, o espanhol não soube colocar em pista o seu melhor jogo e acabou por descarregar a sua frustração na equipa britânica que direccionou o seu apoio para o respectivo compatriota. Nesta altura a única pessoa de que o espanhol se podia queixar era de si próprio, pois em vários GPs não soube capitalizar a ultrapassagem a Hamilton e mostrar a todos em Woking que ele era tão válido como o britânico.

foto: autoevolution.com
foto: autoevolution.com

Quando a tensão interna estava no seu máximo, estoira o escândalo da espionagem da McLaren à Ferrari. Depois dos conflitos entre Hamilton e Alonso no GP húngaro, Alonso ameaça Ron Dennis com e-mails comprometedores da espionagem à Ferrari. Esta atitude foi vista como um forçar de posição do espanhol para ser beneficiado até ao final da época, levando Ron Dennis a denunciar a situação à FIA. É verdade que um erro não pode usado para corrigir outro erro, mas nenhum deles está isento de culpas. A meu ver, a posição de Ron Dennis saiu bem mais fragilizada, pois um escândalo de espionagem é bem pior do que lidar com o ego de um piloto. Sem dúvida foi um dos episódios mais negros da carreira do espanhol, mostrando que apesar da qualidade do piloto, o mesmo pode ficar manchado por episódios fora da pista. Alonso acabou por sair sem glória e regressar à Renault.

 

2º) Regresso à Renault

foto: deviantart.net
foto: deviantart.net

Depois de sair da Mclaren, vários foram os interessados em ter os préstimos do espanhol (Red Bull, Toyota, Honda). Alonso optou por um pouso seguro e regressou à equipa de Flavio Briatore. No entanto foram dois anos penosos com um monolugar abaixo das expectativas, conquistando apenas 2 GPs. O mais controverso deles foi em Singapura, quando Nelson Piquet Jr, sob as ordens de Flávio Briatore, lançou o seu carro contra o muro para provocar a entrada do Safety Car. Este facto beneficiou a estratégia da equipa que tinha lançado Alonso às boxes duas voltas antes. O espanhol foi subindo na classificação até atingir o 1º lugar, que ao contrário do que se diz, não foi consequência directa do acidente, mas sim de um disparate da Ferrari ao deixar Massa arrancar da box com uma mangueira de combustível ainda ligada ao carro. Todo o aparato para retirar a mangueira fizeram o brasileiro perder o 1º lugar do pódio.

foto: f1fanatic
foto: f1fanatic

Esta combinação da Renault só se soube em 2009 quando o capacho brasileiro foi dispensado da equipa e resolveu contar ao mundo o seu acto vergonhoso. Flavio Briatore foi banido para sempre da Fórmula 1 e o director de corrida Pat Symonds afastado por 5 anos. Apesar da polémica, nunca ficou provado que Alonso sabia do plano inicial de Briatore. Mas sem dúvida que o comportamento mais duvidoso provem de Piquet, quando anuiu num plano tão ardiloso que envergonha a modalidade até hoje. Felizmente que ninguém saiu ferido, mas ao provocar este acidente em prol de um resultado, Piquet poderia ter posto em risco a sua vida e dos restantes pilotos. No entanto, um piloto do calibre de Alonso não precisaria de ver o seu currículo manchado pelos subterfúgios de Briatore e de uma equipa que queria ganhar a qualquer custo.


(continua…)

Marcos Gonçalves

Advertisement

Um pensamento sobre “F1: Fernando Alonso – O melhor piloto desta geração? (parte III)

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.