F1: Lewis Hamilton – Estatística pura e dura (Parte I)

 

Foto in :Telegraph.co.uk
Foto in :Telegraph.co.uk

Depois do tri-campeonato, a Internet foi inundada por homenagens e criticas ao feito de Lewis Hamilton. Como em tudo na vida, aquilo que começa como um simples debate escala rapidamente para o plano emocional e acaba muitas vezes na ofensa pessoal. Discutir o estilo de condução é algo subjectivo: podemos adorar Button pela consistência e classe que passeia em pista; criticar Maldonado pelas manobras intempestivas achando que está num desporto de contacto; ou elogiar Hamilton pelo estilo combativo e natural apetência para ser o mais rápido. Mas em última análise, depende muitos dos olhos que vêem.

Um dos argumentos que mais celeuma tem provocado é o de Hamilton ser melhor que os restantes colegas de equipa. Até hoje, o britânico teve quatro colegas: três na McLaren (Fernando Alonso, Heikki Kovalainen e Jenson Button) e um na Mercedes (Nico Rosberg). Não querendo entrar pelo campo subjectivo de quem teve a melhor condução nestes últimos 8 anos (tarefa quase impossível pois não consigo recordar em pormenor mais de 128 GPs nesse período), vou então focar-me na estatística pura e dura. É certo que a estatística não é 100% fiável e os números podem ser deturpados, mas para a história rezam resultados e no desporto tecnologicamente mais avançado do planeta, os números são reis e senhores.

 

Número total de pontos por época:

foto in: fanpop.com
foto in: fanpop.com

O total de pontos no final de cada temporada não pode ser desagregado do peso que cada posição final tem numa determinada corrida. Apostando numa lógica de regularidade, apliquei determinados pesos às posições mais altas que um piloto pode adquirir. Para os três primeiros lugares, apliquei percentagens que me parecem realistas de acordo com a influência que têm na contagem final e respectiva importância da obtenção ou não de um pódio. Para além disso, apliquei uma percentagem mais baixa aos lugares pontuáveis sem fazer distinção, pois entraria num grau de detalhe demasiado grande, quando apenas pretendo avaliar a consistência do piloto em ficar nos pontos. Aproveitando a onda da consistência, apliquei um peso relativo às vitórias consecutivas, pois o calendário é demasiado heterogéneo para que um piloto consiga facilmente conquistar corridas atrás de corridas; quem consegue deve ser valorizado. Qualquer desistência foi penalizada com o mesmo valor que uma vitória, de forma a compensar o “factor sorte” que tanto existe na “vitória conseguida pelos erros dos outros” como pela “desistência que ocorre por culpa dos outros. A soma de todas as percentagens multiplicada pelo nº de lugares/vitórias/desistências dá-nos o factor de aproveitamento global. Para determinar o vencedor, o factor de aproveitamento global é multiplicado pelo nº de pontos final.

Concordando ou não com as percentagens aplicadas, a verdade é que são iguais para todos os pilotos em todas as temporadas. Havendo erro na interpretação de cada peso, este aplica-se a todos os envolvidos, não havendo qualquer tentativa de benefício ou prejuízo conforme os gostos pessoais. A matemática é o que é.

1

 

Resultado: O ano de estreia de Lewis Hamilton foi marcado pelo equilíbrio em relação ao colega, ou não estivéssemos nós a falar do bi-campeão Fernando Alonso. No entanto o britânico levou a melhor, obtendo mais vitórias consecutivas e maior nº de 2ºs lugares.

2

 

Resultado: Em 2008, ano da conquista do seu primeiro título, Hamilton esmagou Kovalainen em todas as vertentes. Em 2009 com o domínio da Brawn, a McLaren apresentou bastantes dificuldades. Mas mesmo num ano complicado, Hamilton voltou a ser bem melhor que o colega. A estatística de Kovalainen é dolorosamente negativa pois não somou nenhum pódio, teve 5 (!) desistências e em lugares pontuáveis oscilou entre o 8º e o 4º, em apenas 7 GPs.

3

 

Resultado: A chegada de Button à McLaren veio impor um equilíbrio nunca antes visto entre Hamilton e um colega. Apesar de Hamilton ter levado a melhor no primeiro ano, os dois seguintes foram controlados por Button, tanto pela maturidade e fiabilidade da sua condução como pelo somatório dos erros de Hamilton e outros tantos problemas mecânicos.

4

 

Resultado: No ano de 2013, ainda dominado por Sebastian Vettel, os dois Mercedes andaram taco a taco. No entanto Hamilton acabou por se superiorizar com a maior regularidade nos lugares pontuáveis. Depois da introdução das unidades V6 turbinadas, os dois últimos campeonatos foram um passeio no parque para a Mercedes. No entanto a nível interno, o andamento superior do britânico deixou o alemão sempre a coçar a cabeça, visto ter um monolugar semelhante. O talento de Hamilton deixou o alemão fora de jogo, quando de pole positions se tratava (a abordar na 2ª parte do artigo).

Conclusão:

Lewis-Hamilton-Mercedes-2015-F1-testing-Barcelona-8Poderemos sempre argumentar que o perfil intempestivo de Hamilton resultou na perca infantil de pontos quando estava na McLaren. Nessa altura, a equipa soube explorar e bem a consistência e fiabilidade da condução de Button para amealhar pontos preciosos. Mas se a condução agressiva de Hamilton tivesse dado frutos e não acidentes (como aconteceu em alguns casos), se calhar o piloto britânico até tinha sido mais dominante… Mas tudo isto é subjectivo. Penso que se poderá afirmar que Lewis tem das conduções mais entusiasmantes dos últimos oito anos. E durante esse período só foi dominado por duas vezes: em 2011 e 2012 por Jenson Button. Não faz dele totalmente dominador em relação aos colegas, mas oferece-nos outro prisma: durante oito anos, só em dois Hamilton perdeu a liderança para um colega. Isto afirma que Lewis foi melhor em 75% das vezes, percentagem bastante interessante para quem já teve quatro colegas diferentes em duas equipas de topo.

De qualquer forma, analisar o desempenho do piloto de forma isolada pode parecer redutor. É verdade que excelentes pilotos levam monolugares medianos mais além, mas é preciso não esquecer que nos anos em que são campeões, o prémio final também é distribuído por centenas de funcionários que souberam ir mais além e produzir um monolugar ganhador.

(continua…)

 

Marcos Gonçalves

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4 pensamentos sobre “F1: Lewis Hamilton – Estatística pura e dura (Parte I)

  1. Parei de ler em “os dois seguintes foram controlados por Button”

    2011 o Hamilton tomou uma surra, mas deu o troco em 2012, mesmo que a pontuação não tenha mostrado isso.

    Duas vezes ele teve problemas e abandonou quando liderava a corrida (50 pontos)
    Duas vezes ele foi tirado por outros pilotos, uma estava brigando pelo terceiro lugar e na outra era líder (40 pontos)
    Perdeu uma pole por erro da equipe e largou em último, chegou em 8º, provavelmente chegaria em 1º, já que o Maldonado herdou a pole e venceu. (21 pontos)

    Só fazer as contas ai, 50+40+21 = 111 pontos que ele perdeu sem ter culpa, agora soma com os 190 que ele fez naquela temporada, da 301 pontos. Ele teria dado uma surra ainda maior que levou em 2011, e poderia ter sido campeão.

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