F1: Os campeões (parte III)

Há 1 ano começamos a escrever uns artigos sobre todos os campeões da F1, época por época e a resumir cada uma delas. Não se trata de saudosismo, mas sim de história, de Homens que arriscavam (e ainda continuam) a vida para serem os melhores! Apenas alguns o podem ser, mas todos eles merecem a nossa vénia e o nosso obrigado pelo contributo de cada um para o “nosso” desporto.
Chegamos à década de 70 e a memórias mais recentes.

1970 – Jochen Rindt (Título de construtores: Lotus)

Jochen-Rindt-Lotus-
foto in: formulapassion.it

Para o novo ano, Graham Hill saiu da Lotus, depois do grave acidente de ´69 e Rindt tornou-se o primeiro piloto de Colin Chapman. Jack Brabham contava já com 23 anos de competições motorizadas. Um verdadeiro monstro! Enquanto isso, Jackie Stewart trocava a Matra pela March, já que a Matra desistiu da competição em ´69.

Depois da corrida de Spa, ganha por Pedro Rodriguez em BRM, a Mclaren retirou-se da competição pelo restante ano, devido à morte de Bruce Mclaren em treinos para a CanAm que preparava. Jochen Rindt teve 3 vitórias consecutivas: França, Grã-Bretanha e Alemanha, pela primeira vez o circuito escolhido foi Hockenheim.

Em Setembro, Jochen Rindt, durante os treinos livres de Monza, morreu quando o Lotus embateu nas barreiras. Ainda assim o piloto alemão foi coroado postumamente Campeão de 1970.

1971 – Jackie Stewart (Título de construtores: Tyrrell)

1971monacogpjackiestewart
foto in: f1-facts.com

Depois de ter percebido que a March era inferior à Matra, Jackie Stewart decidiu-se pelo novo carro desenvolvido por Ken Tyrrell, o Tyrrell-Ford, que provou ser o mais forte do ano. Em ´71 dois austríacos entraram para o mundo da F1: Helmut Marko e Niki Lauda. Foram os dois primeiros austríacos na competição.

Jackie Stewart venceu o campeonato, com Ronnie Peterson em 2º e Francois Cevert 3º, no ano em que a Tyrrell venceu o título de construtores com a BRM e a March logo atrás.

1972 – Emerson Fittipaldi (Título de construtores: Lotus)

lotus72
foto in: correiodopovo.com.br

A Lotus renasceu em ´72, com a entrada do mítico patrocinador John Player Special e com a fantástica pintura preta e dourada. Era um carro diferente do de ´71. No entanto quem venceria a prova inaugural na Argentina, seria Jackie Stewart. O Escocês Voador não venceu o campeonato em parte, devido a uma úlcera, ainda assim venceu quatro provas. A Mclaren por sua vez, não vencia nenhum GP há dois anos, mas se nas duas temporadas anteriores o foco esteve nas corridas de Indianapolis 500 e na CanAm, em ´72 o novo patrocinador, a Yardley, “obrigava” a concentrarem recursos de novo na F1.

O GP de Espanha foi a primeira vitória de Fittipaldi, que na corrida seguinte, no Mónaco, viu Jean-Pierre Beltoise vencer – a última vitória do piloto- mas foi recompensado pela corrida cautelosa que fez, com o 3º lugar. Stewart regressou às vitórias, nos GP de França, no circuito Clermont-Ferrand, com o brasileiro a terminar em segundo e depois do escocês não ter podido correr na Bélgica, devido ao problema de saúde já referido.

No final da temporada, Emerson Fittipaldi foi o novo campeão e bateu o recorde do mais jovem piloto a vencer na Fórmula 1, com 25 anos, 8 meses e 29 dias.

Nos construtores, a Lotus festejou mais um título para o curriculum, com a Tyrrel em segundo, muito devido a Jackie Stewart, e a McLaren de novo no pódio dos construtores.

1973 – Jackie Stewart (Título de construtores: John Player Special-Lotus)

jackie_stewart__spanish_gp_1973__by_f1_history-d5d19pt
foto in: f1-history.deviantart.com

Novo ano, os mesmos protagonistas: Jackie Stewart pela Tyrrel e Emerson Fittipaldi pela Lotus (agora John Player Special-Lotus). Os colegas de equipa dos dois enormes pilotos eram Ronnie Peterson (Lotus) e François Cevert (Tyrrel). Nas duas primeiras corridas do ano, na Argentina e Brasil, Fittipaldi arrecadou as vitórias, mas na África do Sul, Stewart venceu. O “Rato”, como é conhecido no Brasil, vingou-se e venceu em Espanha, no entanto, Sir Jackie levou de vencida o GP da Bélgica e o do Mónaco. No principado, um tal de James Hunt fez a sua estreia na F1 aos comandos de um March 731 da Hesketh Racing.

Denny Hulme venceu na estreia da Suécia em GP, apenas a sua segunda vitória em 4 anos. Na corrida seguinte, o acidentado GP da Grã-Bretanha em Silverstone, onde um acidente na recta da meta envolveu 9 pilotos sem vítimas mortais, Peter Revson venceu. Se em Silverstone não houve vítimas, em Zandvoort na corrida seguinte, Roger Williamson (March) embateu contra as protecções e morreu em pista. Stewart venceu essa corrida, que prosseguiu normalmente como se nada tivesse acontecido e Cevert ficou em 2º. O feito do duo foi repetido no GP seguinte, em Nürburgring. O título seria decidido em Monza, depois de na Áustria, Peterson ter deixado Fittipaldi passar, no entanto o brasileiro desistiu da corrida por problemas técnicos.

Em Monza, Petterson estava na primeira posição e Fittipaldi em 2º, mas desta vez o sueco não abriu a porta ao colega de equipa, deixando nas mãos de Stewart a vitória no campeonato. O escocês fez o que lhe competia e terminou em 4º, conseguindo o seu 3º título na F1. Na corrida seguinte, no Canadá, François Cevert morreu num acidente nos treinos e Jackie Stewart decidiu não correr, dando por terminada a carreira, batendo o recorde de mais GP´s ganhos, que pertencia até então a Jim Clark. O recorde durou 14 anos.

1974 -Emerson Fittipaldi (Título de construtores: McLaren)

7580327_origO novo ano trouxe muitas mudanças: Fittipaldi mudou-se para a McLaren, sendo substituído na Lotus por Jacky Ickx e a BRM perdia os seus dois pilotos, Clay Regazzoni e Niki Lauda, para a Ferrari.

A primeira corrida, na Argentina foi ganha por Denny Hulme, com o argentino Carlos Reutemann a liderar quase toda a corrida, mas a ficar sem combustível muito perto do fim da prova. Na terceira ronda, o argentino vingou-se e  venceu-a, no entanto a sua vitória foi ensombrada pela morte de Peter Revson nos treinos de Kyalami.

Lauda começava a ganhar a reputação de piloto rápido, ao assinar 9 pole position durante o ano, mas tanto a sua relação com o colega de equipa, como os resultados não eram os melhores; Regazzoni foi crítico da estratégia do austríaco no Canadá, quando Lauda liderou a maioria da prova mas não evitou uma saída de pista, “dando” a vitória canadiana a Fittipaldi. O brasileiro chegava à última prova em igualdade pontual com Regazzoni… e Lauda não pontuava desde o GP da Alemanha, a 11ª ronda em 15 desse ano. O italiano da Ferrari perderia o mundial na última prova, em Watkins Glen e bastaria o 4º lugar a Fittipaldi para arrancar a vitória no campeonato.

Clay Regazzoni ficou em 2º com Jody Scheckter em 3º e a McLaren conquistou o ceptro por construtores, com a Ferrari e a Tyrrel a seguirem-lhe.

1975 – Niki Lauda (Título de construtores: Ferrari)

150469081Se no ano anterior as mudanças tinham acontecido para os principais pilotos do mundial, em 75 isso não aconteceu. Niki Lauda era o nº2 da Ferrari, mas viria a provar a sua competência com um melhor modelo da Scuderia.
O ano nem começou nada bem para os italianos, que viram Emerson Fittipaldi a vencer a prova inaugural da Argentina e a terminar em 2º no Brasil. No entanto, a Ferrari colocou em acção o seu novo modelo na prova sul africana, o 312T. Embora não conseguissem vencer esse GP, foi com certeza o volta face da época.
A época ficaria marcada também pelos piores motivos: no GP de Espanha os treinos tinham sido interrompidos por causa da falta de segurança e a Associação de Pilotos pediu o reforço das medidas de segurança, principalmente as barreiras da pista. Durante a corrida, um grande acidente deixou de fora grande parte dos pilotos, com um carro a saltar as protecções e a matar 4 espectadores. No final (com 29 voltas completadas) apenas terminaram 8 pilotos e 6 pontuaram.

A partir desse GP, Lauda começou a crescer. Venceu os GP do Mónaco, Bélgica e Suécia, terminando em 2º na Holanda, onde James Hunt com o Hesketh fintou toda a gente e venceu (abrindo as portas para uma das maiores lutas da F1: Lauda vs Hunt), mas o austríaco voltou às vitórias na França. Fittipaldi ainda deu o ar da sua graça, ao vencer em Silverstone, mas Lauda foi o mais forte durante todo o ano e bastou o 3º lugar em Monza, na penúltima prova do ano, para carimbar o título mundial.

Lauda deixou o segundo classificado, Fittipaldi, a 19.5 pontos de diferença e Carlos Reutemann foi o 3º classificado do campeonato. A Ferrari com o seu novo modelo venceu o título de contrutores, com a Brabham e a McLaren a ficarem no pódio.

Depois da época ter terminado, Graham Hill juntamente com vários elementos da Embassy Racing, viajavam num avião pilotado pelo britânico que caiu perto do aeroporto onde iriam aterrar. Hill e o jovem piloto Tony Brise foram duas das vítimas mortais desse acidente.  

1976 – James Hunt (Título de construtores: Ferrari)

james_hunt__brazil_1977__by_f1_history-d6sic0zEm 74, James Hunt tinha dado nas vistas ao vencer na Holanda, mas a pequena formação da Hesketh teve de desistir do mundial porque não tinha um patrocinador forte. Sendo assim, Hunt foi contratado pela McLaren, com Emerson Fittipaldi a iniciar o seu projecto brasileiro, a Copersucar, e sair da equipa inglesa.

Foi um ano dramático e controverso. Niki Lauda venceu as provas inaugurais do Brasil e da África do Sul e terminando em 2º nos EUA, atrás do colega Clay Regazzoni. James Hunt venceu em Jarama, Espanha, com uma ultrapassagem na volta 32 a Lauda. No final, a organização retirou-lhe a vitória devido à largura excessiva do McLaren. A equipa apelou contra a penalização e semanas depois do fim do GP, Hunt recebeu de novo os pontos pela vitória.

76 foi também o ano da Tyrrel vencer o GP da Suécia com o seu famoso P34, o monolugar com 6 rodas. Apenas venceram essa prova, mas o carro ficou famoso para todo o sempre.

A controvérsia voltava à F1, com o acidente entre Hunt e Lauda no GP da Grã-Bretanha. A prova foi interrompida e no recomeço, Hunt venceu, mas como a McLaren tinha feito reparações ao carro, no final a Ferrari interpôs uma acção e a vitória foi retirada ao inglês, sendo Lauda considerado o novo vencedor da prova, que terminou em 2º. No GP seguinte, em Nürburgring, Lauda quase morreu queimado, depois de um dos mais famosos acidentes da F1.
O piloto, gravemente ferido recuperou e apenas em 5 semanas juntou-se ao Grande Circo, para o GP da Itália, terminando em 4º. A sua coragem foi apreciada pelo público e pelos seus pares, tendo este episódio sido retratado por Hollywood no filme “Rush”. 

Hunt venceu os GP do Canadá e EUA, chegando ao último GP, o do Japão, bastando o 3º lugar para se sagrar campeão do Mundo. Com condições atmosféricas adversas, a corrida iniciou-se, mas 2 voltas depois, Lauda retornava às boxes para desistir devido à imensa chuva que caía no circuito. Hunt liderou quase toda a prova, mas perto do final os pneus obrigaram-no a cair para a 5ª posição. O inglês fez o que pôde e acabou por assegurar o 3º lugar, tendo sido campeão por apenas 1 ponto de diferença para Lauda.

Hunt foi campeão com 69 pontos e Lauda 2º com 68. Em 3º ficou Jody Scheckter no seu P34. No entanto, a Ferrari venceu o título de contrutores, com a McLaren em 2º e a Tyrrel em 3º.

1977 – Niki Lauda (Título de construtores: Ferrari)

4.-Niki-LaudaDepois do acidente de 76 na Alemanha, Enzo Ferrari tinha dúvidas que Lauda fosse capaz de vencer mais títulos. Ainda assim, permitiu a continuidade do austríaco na equipa e o piloto não o deixou ficar mal.

Jody Scheckter saiu da Tyrrel e mudou-se para nova estrutura da Wolf. Na prova de estreia, com algumas desistências dos homens mais fortes, Scheckter venceu. Niki Lauda apenas conseguiu vencer o 3º evento do ano na África do Sul e retornou às vitórias na Alemanha (para espantar os fantasmas do acidente) na 11ª ronda do mundial. Embora tenha conseguido pontos importantes durante um GP e outro, a relação entre piloto e equipa tinha arrefecido bastante e no GP de Espanha, Lauda não esteve presente. A relação tinha batido no fundo.

Lauda venceu em Zandvoort, mas antes do GP de Itália, em Monza, o piloto informou que os seus dias na equipa estavam contados, dando ainda mais ênfase à discórdia entre uma parte e outra.
Mesmo com menos uma vitória do que o 3º classificado no campeonato (Lauda venceu por 3 vezes, contra 4 vitórias de Mario Andretti), Lauda foi coroado campeão e juntou-se à Brabham de Bernie Ecclestone para a época seguinte.

No final, Lauda 1º, Scheckter 2º e Mario Andretti foi 3º no campeonato. A Ferrari conseguiu mais um título, o terceiro consecutivo.

1978 – Mario Andretti (Título de construtores: Lotus)

1001No ano anterior, a Lotus colocou um novo modelo em competição, o Lotus 78, que canalizava o fluxo de ar para o baixo do carro, criando uma excelente quantidade de downforce. A ideia não era nova, mas a Lotus colocou-a em prática e deu bastante resultado. No ano anterior, Andretti tinha sido 3º no campeonato e em 78, conseguiu o título de pilotos e de construtores à Lotus.

Lauda estava na Brabham e embora o carro desse provas de conseguir competir com os mais fortes, o seu motor Alfa Romeo era o seu calcanhar de Aquiles. Já a Ferrari tinha perdido o seu melhor piloto, substituindo-o pelo jovem Gilles Villeneuve, passando Reutemann para piloto nº1.

Andretti venceu os GP da Argentina, Bélgica, Espanha, França, Alemanha e Holanda, enquanto o seu novo colega de equipa, Ronnie Peterson (que substituiu Gunnar Nilsson), venceu os GP da África do Sul e Áustria. Ou seja, dos 16 GP da época, os dois pilotos da Lotus venceram metade deles, deixando Reutemann e Lauda discutirem outras 7 vitórias durante a época. Gilles Villenneuve também venceu uma das provas (na sua terra natal, o Canadá) e Patrick Depailler venceu no Mónaco.

A época ficou marcada por dois momentos: a exclusão do modelo da nova equipa Arrows, o FA1 com que começaram a época por infringir direitos de reprodução (do Shadow DN9), obrigando a equipa a estrear na Áustria no A1, o novo modelo para a época; o segundo momento marcante do ano, foi a morte de Ronnie Peterson depois do acidente em Monza. O sueco bateu no warm up e foi obrigado a começar a corrida com o modelo do carro anterior, mas no começo da corrida o piloto envolveu-se num grande acidente e ficou ferido. Os ferimentos não eram graves, mas o piloto sofreu um embolismo que o matou.

Andretti foi coroado campeão nessa prova, mas o norte-americano sentiu bastante a perda do amigo e colega de equipa.
O ano terminou com o título para Andretti, com Peterson a ser 2º e o piloto da Ferrari, Reutemann em 3º. A Lotus não deu hipóteses às restantes equipas e recuperou o título de construtores, ficando a Ferrari em 2º e a Brabham em 3º.

1979 – Jody Scheckter (Título de construtores: Ferrari)

11A Ferrari achava Reutemann um bom piloto mas que errava em momentos importantes e o argentino pensava que os Lotus eram simplesmente melhores carros, pelo que a mudança do argentino para a equipa de Colin Chapman foi quase natural. Com isso, Gilles Villeneuve fez parelha com Jody Scheckter.

O ano não começou nada bem para a Scuderia, com Scheckter a ter um acidente na Argentina e terminar em 6º no Brasil; Villeneuve apenas pontuou 2 pontos na prova de abertura e terminou em 5º no Brasil.
Quem ficou bem visto na abertura do mundial foi Jacques Laffite e a Ligier: venceu na Argentina e no Brasil, onde Patrick Depailler, o seu colega, foi 2º no final da prova brasileira.

Com a introdução do novo modelo Ferrari, o 312-T4, a equipa italiana deu um pontapé na crise e os dois pilotos terminaram nas primeiras posições na África do Sul e EUA. A Williams, com os motores turbo da Renault também começava a colher frutos. Os britânicos foram 3º pelas mãos de Regazzoni no Mónaco, primeiro na Grã-Bretanha e conseguiram um-dois na Alemanha. Mais 3 vitórias pelas mãos de Alan Jones até ao final da temporada.

No Canadá, a penúltima prova do ano, Niki Lauda deu por terminada a sua carreira na F1 como piloto, depois do seu nada competitivo Brabham o frustrar durante dois anos.

No final do mundial, Scheckter foi campeão com apenas 4 pontos de diferença para o seu colega de equipa, Gilles Villeneuve e com Alan Jones a terminar em 3º, com menos 11 pontos que o campeão. A Ferrari capitalizou o seu novo modelo, vencendo o título de construtores com grande diferença para a Williams e a surpreendente Ligier.

Pedro Mendes

Um pensamento sobre “F1: Os campeões (parte III)

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.