Pagani – O sonho de ser perfeito

Damos por nós muitas vezes a ver artigos e documentários sobre pessoas fascinantes, que conseguiram ser bem-sucedidas e que tornaram o seu sonho realidade. Pessoas de convicções, de carácter forte, sem medo de arriscar. Horacio Pagani é uma dessas pessoas… Um visionário que desde muito novo tinha uma paixão e foi essa paixão que o levou a desenhar alguns dos carros mais belos que este planeta já viu.

 

A história de Horacio Pagani começou na Argentina, onde nasceu em 1955. Cedo mostrou grande paixão pelos carros, embora a sua família não tivesse tradição ou paixão pelos automóveis. Desde tenra idade que Horacio pegava em pedaços de madeira e outros materiais e moldava-os em carros que ia imaginando e apresentando aos seus amigos. Segundo Pagani, desde criança que sentiu fascínio pela arte e pela tecnologia e foi nos automóveis que encontrou um lugar onde podia combinar essas duas paixões, tornando-a numa paixão ainda maior e transformando-a num objectivo de vida… criar os seus próprios carros em Modena. E foi com essa ideia que começou a frequentar a oficina de um amigo, onde aprendeu a trabalhar diversos materiais e onde construiu o seu primeiro veículo aos 15 anos… uma moto. Daí a fazer o seu próprio Formula 2 foi um pequeno passo, máquina cujas peças foram quase todas trabalhadas por Pagani. Com 20 anos o jovem Horacio pegou  nos regulamentos e fez de raiz o seu próprio carro. Foi aí que aprendeu os aspectos técnicos de forma muito rápida mas entendeu também que não era essa a verdadeira paixão. Pagani queria mais que apenas o técnico… queria a estética também, a arte.

Foi então que conheceu Juan Manuel Fangio, um mito do desporto motorizado de quem se tornou muito amigo. E com ele foi trocando ideias de como deveria ser o carro perfeito. Foi graças à recomendação de Fangio que Horacio foi para Itália em busca do seu sonho.

Acabou por ir para a Lamborghini, onde começou no nível mais baixo, na altura em que apenas 160 pessoas trabalhavam na marca e onde tudo era feito à mão. Passou a ser chefe da secção de compostos onde começou a trabalhar com a fibra de carbono. Participou na fabricação do primeiro carro do mundo feito com fibra de carbono e Kevlar, (Countach Evolutzione) assim como no projecto do Jeep LM e do Diablo.

Então surgiu a vontade de trabalhar em mais compostos que pudessem ser usados nos carros e Pagani sugeriu a compra de um autoclave para poder estudar as várias possibilidades. A resposta foi simples: “Se a Ferrari não tem, nós também não precisamos”. Pagani percebeu então que teria de usar medidas extremas e fez um empréstimo para comprar ele próprio o autoclave. Fez um contrato com a Lamborghini e trabalhou com eles até a guerra do Golfo, quando a indústria dos supercarros sofreu um grande revés e vários projectos foram cancelados, um dos quais o Gallardo. Foi nessa altura que Pagani resolveu tentar fazer o seu próprio carro. Contra a tendência e contra tudo o que as grandes companhias estavam a fazer, Pagani iniciou o seu grande projecto de vida numa altura em que ninguém o aconselhava a fazer.

E foi aí que surgiu o Zonda , que inicialmente se chama … Fangio. O herói argentino foi a inspiração para o carro e as características essenciais foram aconselhadas pelo próprio Fangio. Uma máquina segura, intuitiva e comunicativa… essencialmente fácil de conduzir, ao contrário de todos os outros supercarros. O projecto começou em 91, sendo que em 93 o carro estava a ser testado no túnel de vento da Dallara (para quem Pagani trabalhou na criação de compostos para os monolugares da marca, assim como fez para a Ferrari). Em 94 a Mercedes aceitou fornecer o seu motor M120, o V12 de inicialmente 6.0 L mas que ao longo do tempo passou a ser de 7.3L. Foi o próprio Fangio que aconselhou Pagani a escolher a Mercedes para dar o “coração” da máquina.

Começou por ter um V12, 6.0L que debitava 389Cv, mas depressa passou a ser equipado com um 7.0L de 540Cv. O Zonda teve várias versões:  a primeira C12, passando pelo S e o S7.3, seguindo-se o Roadster, o F (F de Fangio) uma versão mais potente com quase 600Cv, o F Roadster e por fim o Cinque, a versão adaptada para a estrada do alucinante Zonda R que pulverizou o record em Nurburgring Nordshleife. Muitas versões especiais foram feitas

O Zonda foi um sucesso imediato. O design extravagante e o potente motor Mercedes tornaram o Zonda numa peça apetecível a todos os níveis, mas não para todas as carteiras.  A produção do Zonda foi aumentando de ano para ano, de acordo com as possibilidades da fábrica mas sempre com um denominador comum: Todo o carro é montado à mão, tal como Pagani gosta e como ele acha que é o melhor processo para entender a máquina. Desde cedo que entendeu a importância de trabalhar os materiais à mão e foi com essa ideia sempre presente que iniciou a produção dos seus carros. Foram quase 10 anos de Zonda, numa era em que foi aclamado por todos. Na primeira tentativa, Pagani tinha cumprido o seu desejo… fazer um carro de que se pudesse orgulhar e homenagear Juan Manuel Fangio. Mas a grande dúvida começava a colocar-se entre os fãs de automobilismo: Seria Pagani capaz de criar algo ainda mais espectacular que o Zonda, um digno sucessor de um dos carros mais belos e carismáticos de sempre?

 

A resposta surgiu em 2011, ano em que foi apresentado o Huayra. Tal como uma banda que teve sucesso no primeiro álbum, a expectativa do segundo trabalho é sempre enorme pois é o que vai confirmar se a banda tem qualidade ou se não passou de um golpe de sorte. No entanto Pagani não teve pressa de lançar o sucessor do Zonda e levou mais de 5 anos a aprimorar o conceito do Huayra. A nova obra de arte recebia o novo motor Mercedes M158 V12, 6.0L turbo. Além disso, o carro apresentava outras inovações como o uso de carbo-titânino como composto principal do carro, aumentando a rigidez do carro e a segurança do mesmo em caso de embate e também o uso de apoios aerodinâmicos activos, que respondem de acordo com as necessidades do carro, tudo isto com um peso inferior a 1300Kg. O Zonda foi um enorme sucesso mas o Huayra tornou-se num digno sucessor.

 

Em ambos se nota a filosofia de Horacio Pagani bem vincada… a funcionalidade de mãos dadas com a arte; A tecnologia aliada à beleza, tal como defendia Leonardo da Vinci, onde Pagani vai buscar inspiração. O Zonda era extravagante quando todos os grandes construtores optavam por conceitos mais domesticados. A sua forma pouco vulgar tornava-o numa peça de arte única e a sua performance fazia frente a qualquer Ferrari ou Lambo.

No entanto o Huayra é ainda mais belo. Houve quem dissesse que o desenho era pouco radical e que Pagani tinha optado também por uma versão domesticada. Nada mais longe da verdade. O Zonda foi inspirado nos carros de Le Mans e tinha como base para a sua filosofia o nome de Fangio. O Huayra teve como inspiração o vento (daí o nome, pois Huayra é o nome do deus Inca do vento) e a inspiração justifica o desenho. A ideia era simular as sensações de um avião a levantar voo e tudo se conjuga para que essa sensação seja real, com os apoios aerodinâmicos activos e o som do turbo a serem os actores principais.

Mas não é só de beleza que se faz o Huayra… Os 720cv fazem desta máquina um animal feroz, que se consegue domar com relativa facilidade. O desempenho supera o do Zonda e quanto ao interior… é provavelmente o interior mais belo alguma vez feito. A tecnologia de ponta disfarçada em pormenores clássicos dá-nos vontade de ficar o dia inteiro dentro do carro e apreciar cada pormenor.

Pagani é responsável por nos fazer sorrir. Num mundo de híbridos, funcionalidade e tecnologia, a marca italiana prova-nos que é ainda possível fazer carros com carácter… com alma. Num mundo obcecado com números, Pagani oferece os números e a beleza… pois sem beleza a vida não faz sentido. Temos inúmeros carros muito bonitos e que nos fazem suspirar mas Pagani está num nível aparte. É provavelmente o único construtor de supercarros que consegue recriar o fascínio que sentíamos quando éramos miúdos e víamos um Ferrari ou um Lamborghini. Aquele “uau” infantil que se escapava naquela altura, volta a aparecer quando vemos o Huayra. E quando enfrentamos uma fase de mudança no mundo automóvel é reconfortante podermos ter carros assim, que poderemos mostrar às gerações futuras. Aposto que daqui por 50 anos alguém mostrará um Pagani a um miúdo e a reacção dele será a mesma que tivemos quando o vimos o que é provavelmente a maior homenagem ao automóvel, o instrumento que mudou radicalmente a forma como vivemos.

Pagani cumpriu o seu sonho… criar o seu carro perfeito e ganhar lugar na história do automobilismo. Sonhou ele e agora sonhamos nós com ele.

 

Fábio Mendes

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