São poucos os pilotos que conseguem escolher a altura certa para se retirarem. A paixão pelo desporto e a vontade de correr faz com que fiquem sempre um pouco mais do que seria desejável. Nico Rosberg fez exactamente o contrário… saiu pela porta grande, com o título de campeão na mão, depois de levar a melhor sobre um dos melhores pilotos de sempre. Sai de consciência tranquila e com vontade de retribuir à sua família o esforço e a dedicação que recebeu.
A carreira de Nico foi fortemente influenciada pelo seu pai, Keke Rosberg também ele campeão de F1 em 1982. Nascido na Alemanha, cresceu no Mónaco e tem dupla nacionalidade (alemã por parte da mãe e finlandesa por parte do pai) tendo competido com a bandeira da Alemanha e também da Finlândia. Hoje em dia Nico considera-se alemão de gema e são vários as fotos nas redes sociais apoiando a selecção alemã.
A carreira começou nos karts onde começou a dar nas vistas juntamente com um tal de Lewis Hamilton, com quem criou fortes laços de amizade. Passou para a Formula BMW onde foi campeão em 2002 e fruto dos seus resultados foi para a Formula 3, tendo testado um F1 pela primeira vez em 2004 pela Williams – BMW. Passou em 2005 pelo GP2 onde foi campeão e em 2006 foi chamado pela Williams para ser piloto da equipa britânica e por aí se manteve até 2010.
Nesse ano recebeu a chamada da Mercedes para ser colega de equipa do grande Schumacher e dar início a um projecto que pretendia ser vencedor. O início foi complicado pois a Mercedes não era competitiva o suficiente para atingir bons resultados de forma constante mas Rosberg permaneceu na equipa e voltou a encontrar Hamilton como companheiro em 2013.
A grande mudança veio em 2014 quando os regulamentos mudaram e os motores V6 híbridos foram introduzidos. A Mercedes fez um trabalho fenomenal e entregou aos seus pilotos a melhor máquina da F1 e aquela que se viria a tornar uma das mais dominadora de sempre. Foi aí que Nico começou a sua caminhada para o titulo. Mas pela frente teria um adversário difícil, provavelmente o mais difícil de todos. Em 2014 e 2015 Hamilton levou a melhor mas em 2016 Rosberg deu tudo por tudo e conseguiu finalmente vencer o titulo mundial e cumprir o seu sonho.
São no total 206 GP, 11 épocas, 23 vitórias, 30 poles, 57 pódios, e 20 voltas mais rápidas.
Rosberg não é um campeão aclamado pelos fãs de F1. A grande maioria admite que Hamilton tem mais talento mas Nico soube ultrapassar muitas adversidades. Soube enfrentar os jogos psicológicos de Hamilton, soube lidar com a frustração de não vencer dois campeonatos que estavam ao seu alcance, soube compensar a sua falta de velocidade com regularidade, inteligência e rigor. Não é uma figura consensual e quanto a nós não entra sequer no top 5 de melhores pilotos da actualidade. Mas é por isso mesmo que merece todo o crédito pela sua conquista. Ele provavelmente melhor que ninguém conhece as suas limitações e mesmo assim encontrou forma de vencer. É verdade que o carro é o melhor e isso ajuda muito. Mas quando se vence contra um Hamilton é obrigatório dar mérito.
Rosberg sai como sempre sonhou… sai campeão. Não foi dos pilotos que mais entusiasmou mas mostrou que trabalho duro e dedicação são a receita ideal para vencer o talento puro. Rosberg não é mau piloto, longe disso. Seria uma escolha óbvia para todas as grandes equipas. Mas falta-lhe o factor X que Hamilton, Verstappen, Alonso e Ricciardo têm. Sai pela porta grande com vontade de recompensar a família pelo esforço que fez e com vontade se calhar de experimentar outros desafios. Merece as palmas e o seu nome está para sempre escrito na F1. O sonho de muitos é a realidade de Rosberg. Parabéns por isso e pela carreira de grande calibre.
Fábio Mendes