2017 chegou e as equipas preparam as surpresas para a nova época que se avizinha. O problema das surpresas é que raramente o são pois há sempre uma fonte bem colocada que desvenda um pouco do que se passa dentro das equipas.
O regresso da Honda à F1 está longe de ser um conto de fadas. Se fossemos brejeiros, utilizaríamos o termo fadas para fazer um trocadilho e resumir o que tem sido o desempenho dos japoneses até agora. A marca começou o desenvolvimento da sua unidade híbrida com 2 anos de atrás em relação à Mercedes mas na F1 tempo é dinheiro e dificilmente os japoneses conseguiriam apresentar um “moinho” que fosse competitivo desde início. Mas o que se constatou foi ainda pior… o motor era fraco, com pouca potência e pouca fiabilidade. O problema… o conceito silhueta zero da McLaren.
A mania das dietas chegou também à F1 pela mão de Newey. Já era possivel observar isso nos carros da Red Bull… uma traseira muito fina para maximizar a eficiência aerodinâmica do chassis. Peter Prodromo passou de nº 2 na Red Bull para chefe na McLaren e introduziu o conceito no desenho do carro de 2015 da equipa britânica. E isso dificultou a tarefa à Honda, que precisou de fazer um motor muito compacto para o poder encaixar na traseira do McLaren. Para além de complicar sobremaneira a arquitectura do motor, obrigou a Honda a usar um turbo mais pequeno em relação à concorrência. E um turbo mais pequeno tinha de rodar muito mais para tentar chegar à potência da concorrência, fazendo esse esforço extra stressar em demasia o turbo que partia com mais facilidade que o coração de uma teenager. Outros problemas se aliaram a esta falha chave, como o armazenamento e uso da energia eléctrica.
Todos os problemas de fiabilidade de uso da energia recuperada foram resolvidos mas a falta de potência do motor ainda era evidente. Ora para 2017 a Honda vai esquecer o conceito silhueta zero, ou seja vai criar uma unidade motriz que é relativamente maior em relação à anterior e acima de tudo terá um turbo maior. Para isso vai usar o método usado pela própria Mercedes nos seus motores, com o compressor de um lado do motor e a turbina do outro como explicamos em 2014 na altura em que se descobriu o segredo dos germânicos.
A solução faz sentido e vem confirmar o fracasso dos nipónicos. Desde início que a relação entre a McLaren e a Honda foi complicada pois o britânicos queriam um motor minimamente competitivo rapidamente mas os japoneses não abdicaram da sua filosofia de trabalho. Yasuhisa Arai terá sido o principal responsável por esse problema e desde que foi subsistido por Yusuke Hasegawa o projecto ganhou mais flexibilidade e com isso mais rapidez no desenvolvimento. Usar a filosofia da Mercedes vem dar razão à McLaren que desde inicio insistiu para usar recursos e ajuda de técnicos europeus já com conhecimento de causa. Será a Honda capaz de dar um motor competitivo este ano?
Red Bull com insónias com a questão da suspensão inteligente.
Falamos na semana passada na incógnita que se vive nos engenheiros da F1 sobre as suspensões dos carros para 2017. O problema está no pedido de esclarecimento da Ferrari à FIA sobre a possibilidade de usar um tipo de suspensão que poderia acumular energia ao longo de uma volta, para depois ser usado para regular a altura ao solo do carro quando assim fosse necessário. Por outras palavras, se poderia usar um sistema semelhante ao da Mercedes. Acontece que há uma equipa que usa o mesmo sistema para uma finalidade algo diferente. Enquanto a Mercedes apenas usa o sistema hidráulico (ao contrário de um sistema de molas) nas suspensões para tentar manter o carro com a mesma altura ao solo nos momentos cruciais, ou seja travagem e curva a Red Bull usa este sistema de forma ainda mais agressiva.
O que a equipa patrocinada pelas bebidas energéticas faz é usar um sistema em tudo semelhante ao germânico no eixo dianteiro mas no eixo traseiro este tipo de suspensão cumpre mais uma função. Acredita-se que a Red Bull usa a energia acumulada durante uma volta por um sistema de acumulação hidráulica, para poder baixar em recta a traseira do carro.
O monolugar da Red Bull sempre teve como característica um rake positivo muito agressivo. Por outras palavras, a traseira do carro parece muito mais elevada que a frente (juntamente com o McLaren é o carro com o rabo mais empinado do grid) . Isto maximiza o apoio aerodinâmico criado pelo carro mas tem um grande senão… o arrasto que isso provoca limita a performance do carro em recta. Quanto maior for a resistência ao ar menor e a velocidade e os carros da Red Bull sempre tiveram muito apoio aerodinâmico e como tal nunca foram muito eficientes em recta, compensando isso com um ritmo alucinante nas curvas. Ora como o motor Renault é ainda um pouco curto de potência, a equipa pensou em diminuir o arrasto e por consequência aumentar a velocidade em recta, baixando a altura do carro na traseira, “escondendo” assim um pouco a asa traseira e tornando o carro mais escorregadio em recta.
Se este sistema for dado como ilegal a Red Bull terá uma perda de performance significativa pois mesmo que sejam rápidos em curva, nunca conseguirão compensar isso nas rectas (a não ser que o novo motor Renault seja brutal). Basta pensar que os McLaren sempre fora dos carros mais rápidos em curva este ano mas nem isso os impedia de levar voltas de avanço por exemplo da Williams, um dos carro que menos apoio aerodinâmico criava em curva mas conhecido pela sua rapidez em recta. Assim, a Red Bull poderá perder um dos trunfos escondidos que lhe permitiu melhorar muito, disfarçando a falta de potência do motor e permitindo que, a partir do meio de 2016 incomodasse os Mercedes e ultrapassasse a Ferrari. Há rumores que dizem que este tipo de suspensão irá mesmo ser dada como ilegal mas até agora não há confirmações. Esperam-se noites longas nos edifícios de Milton Keynes.
Fábio Mendes
3 pensamentos sobre “F1 – Honda copia Mercedes e Red Bull pode perder muito sem a suspensão inteligente”