Tiago Monteiro não podia querer melhor para a primeira ronda do Campeonato do Mundo de Turismos… a não ser que vencesse as duas corridas do fim de semana. Não foi preciso, a Honda estava bem preparada e Monteiro também, para saírem de Marraquexe líderes do campeonato (a Honda ex aequo com a Volvo).
Honda: Só faltou o MAC3
Para a equipa Honda/JAS, apenas o MAC3 foi fraquinho. Num fim de semana em que saem líderes a par da Volvo, ambos os construtores com 96 pontos, a contratação de Rio Michigami vai, com quase toda a certeza, pesar nas contas dos fins de semana de corrida. Não é segredo que o japonês é o mais fraco dos 3 pilotos da Honda e até em comparação com os 3 pilotos da Volvo (vem de uma realidade completamente diferente).
Em termos individuais, poderíamos ser facciosos mas basta nos ser justos… Tiago Monteiro foi o homem da equipa. Rápido nos treinos livres, antevíamos uma boa prestação por parte do português. Foi muito rápido na qualificação, especialmente quando interessava mais, a Q3. Entrou bem dentro do segundo 21, com uma volta absolutamente fantástica, não dando hipóteses aos também rápidos Norbert Michelisz e Nestor Girolami.
Em corrida, manteve-se na última posição do grupo da frente (até Coronel ficar sem travões e perder a liderança) na problemática Corrida de Abertura, não colocando em risco o carro para a Corrida Principal, onde partia da Pole. Sempre com o seu “escudeiro” Michelisz a protege-lo, tanto numa corrida como noutra. Fantástico trabalho de Tiago Monteiro.
Norbert Michelisz, como escrevemos em cima, serviu de protecção ao homem mais forte da equipa. Na corrida de abertura manteve-se também longe dos problemas, mas sempre à frente de Monteiro, não fosse a coisa dar para o torto e na corrida principal, serviu de guarda costas ao líder. É um verdadeiro team player e um excelente piloto. Não contando com Tiago Monteiro, por motivos óbvios, Michelisz e Girolami são os pilotos que mais nos enchem as medidas.
Rio Michigami ainda se está a ambientar ao WTCC. Manteve acesas discussões com Rob Huff, que o atirou para fora da corrida de abertura e o japonês ainda aguentou algumas voltas com o britânico atrás de si na corrida principal. Foi ultrapassado, mas é extremamente difícil lutar com um piloto experiente e com um carro muito rápido como tem Huff.
Honda: nota 8
Tiago Monteiro: nota 10
Norbert Michelisz: nota 9
Rio Michigami: nota 6
Volvo: Parecia que iam ter um fim de semana melhor
Esperávamos mais da Volvo e dos seus pilotos. Nestor Girolami podia ter sido o melhor dos 3, até pelo andamento que mostrou nos treinos e na qualificação, foi Thed Björk que conseguiu o lugar mais alto do pódio, com o 2º posto da corrida de abertura. E mesmo não tendo chegado a nenhum pódio durante o fim de semana, para mais, sendo o piloto da Volvo com menos tempo ao volante do S60, foi Nick Catsburg que mais pontos somou em Marraquexe. Confuso para a Volvo que tem melhor carro que em 2016, mas parece que padece do mesmo mal que os Citroën… dá-se mal com circuitos citadinos.
Nick Catsburg parecia estar a passar ao lado da ronda marroquina do WTCC, mas com dois 4º lugares foi o melhor não-Honda. Nem apresentou um ritmo por aí além, no entanto foi certinho. Sem abusar muito, ainda levou alguns toques de outros concorrentes, fez uma qualificação que serviu exactamente para os objectivos que possivelmente tinha traçado antes das corridas. Nem demos quase pelo holandês, mas aí está ele, no terceiro posto da geral. Para quem chegou mais tarde e pouco ou nada testou com a equipa nada mau!
Thed Björk conseguiu o 2º posto na corrida de abertura quase sem esforço. A saída de pista de Coronel ajudou-o a subir um degrau no pódio, numa corrida que embora confusa, nenhum dos principais protagonistas quis arriscar. Talvez por isso tenha vencido Guerrieri e Björk tenha ficado em 2º. O sueco tem que aumentar o ritmo e provar o porquê de ser o único piloto Volvo com uma vitória em 2016.
Nestor Girolami foi o mais decepcionante piloto da Volvo nas corridas. Tinha dado mostras de conseguir colar-se aos Honda e aquela volta na Q3, que lhe valeu o segundo posto da grelha de partida, não caiu do céu (há ali talento). O argentino teve um mau arranque na corrida de abertura e ficou para trás, provavelmente poupando a mecânica para a corrida principal. Na corrida principal também arrancou mal e caiu para 3º sem nunca assustar Norbi. Assumimos que em Monza possa estar de novo no topo dos tempos mais rápidos e que consiga capitalizar a rapidez, coisa que não conseguiu em Marraquexe. Parece ser o piloto mais rápido dos 3 de momento mas Catsburg vai evoluir e Bjork é o homem da casa… Mas não deixa de ser sintomático que o homem com menos experiência dos 3 tenha sido o mais rápido. Está aqui uma bela luta interna para apreciar.
Volvo: nota 7
Nick Catsburg: nota 8
Thed Bjork: nota 8
Nestor Girolami: nota 7
Privados: Decepção para Huff e Coronel, Bennani como sempre e Guerrieri a mostrar que tem músculo para uma época inteira
Mehdi Bennani provou que foi vencedor do troféu dos independentes em 2016, por ser regular e não apenas porque o seu carro é bom. O marroquino em casa foi forte e de vez em quando, até aumentou a largura do C-Elyseé, com os adversários a pagarem o prejuízo. São carros de Turismos e Bennani sabe como estar lá no meio do pelotão. Está a evoluir e pode ser candidato. Nota 8
Esteban Guerrieri venceu a corrida de abertura porque estava lá, no sítio certo. O argentino, que quer competir a época completa mas não tem o orçamento para isso, conseguiu provar que merece a confiança dos seus patrocinadores. Não esteve tão bem na corrida principal e até perdeu a posição para o jovem Ehrlacher a duas curvas do fim, mas o material não é o melhor. Sai de Marrocos em 5º na geral e em 2º no troféu dos independentes. Nota 8
Tom Chilton esteve em Marraquexe? Pouco se viu do piloto britânico, o que não quer dizer nada de mal. Significa que pontuou nas duas corridas, levou o carro até ao fim sem problemas. Na corrida de abertura passou um Tom Coronel “desfeito” pela falha de travões e na corrida principal não deixou passar um dos seus adversários directos, Mehdi Bennani. Sabendo de antemão que Chilton não é um piloto para o espectáculo, convém que Tom esteja um pouquinho mais à frente. Tem carro para isso, mas se em 2016 esperava pelo embate com Bennani, agora tem Huff com um carro igual. Tem de mostrar um pouco mais. Nota 7
Tom Coronel deve querer esquecer o mais rápido possível a ronda marroquina (onde raramente tem sorte). Herdou a pole position na corrida de abertura por penalização dos adversários e o que nós pensamos foi “vai acontecer como em Vila Real e Marraquexe no ano passado”. Coronel normalmente torna-se imponente nos circuitos citadinos, onde gosta de competir e utiliza bem as trajectórias para tapar qualquer tentativa de ultrapassagem. Teve muito azar que os seus travões o tenham deixado mal. Acontece a quem anda lá dentro e não a quem está do lado de fora. Mesmo com um modelo ultrapassado, Coronel teima em manter-se à tona e merece o nosso respeito, e o dos adversários, por isso. Nota 6
Rob Huff é outro piloto que quer esquecer Marrocos o mais depressa possível, até porque Monza deverá ser mais do seu agrado. Se tivermos em conta o que se passou nos testes de pré-temporada, Huff arrisca-se a vencer pelo menos uma corrida. Mas vamos a Marrocos… 4 pontos é muito pouco! Começou logo mal, com o seu carro a não passar no escrutínio de sexta feira. Sábado foi apenas 4º na qualificação. Na corrida de abertura ficou retido no meio da confusão e desistiu com um problema de direcção. Na corrida principal demorou a passar por Michigami e não conseguiu passar Coronel. Os dois veteranos do WTCC bateram-se bem, mas o holandês defende-se como poucos e não se intimida com truques de piloto de turismos (já no ano passado aguentou Lopez a corrida toda)! Huff tem de dar a volta à situação bem rápido, já que 39 pontos perdidos para a liderança apenas na primeira ronda, dá que pensar para quem quer ser campeão. Nota 5
Yann Ehrlacher teve o seu fim de semana de estreia no WTCC e começou da melhor maneira com a pole para a corrida de Abertura… Significa que foi 10º na qualificação mas é sempre um bom prémio (foi o melhor dos mais jovens) e teria hipóteses de vencer, uma vez que o traçado marroquino é pouco amigo das ultrapassagens, mas uma penalização deitou tudo a perder. Foi para o fim da grelha e na largada da 1ª corrida foi contra Filippi que ficou parado. Na segunda corrida foi 12º e discreto. Podia ter sido uma excelente estreia e assim foi apenas uma estreia. Uma coisa é certa, o rapaz tem velocidade e pode dar que falar no futuro. Nota 6
John Filippi é o substituto de Demoustier na Loeb Racing e não se pode dizer que tenha que mostrar muito para igualar os feitos do compatriota. Mas na qualificação deixou a desejar, na corrida 1 ficou parado na grelha e na 2ª acabou em 11º apenas com 1.6 segundos de vantagem sobre Ehrlacher com menos experiência e menos carro. Tem o melhor carro do grid, tem 3 anos de WTCC e tem de deixar o rótulo de promessa e assumir mais. Desiludiu. Nota 4
Aurélien Panis teve uma estreia ingrata, com penalizações por peso a menos no seu Civic em qualificação. Na corrida 1 ainda chegou ao 10º lugar o que na prática equivaleu ao último e na segunda corrida desistiu. Notou-se claramente que não estava à vontade e cometeu erros compreensíveis para quem entra numa competição tão especifica quanto o WTCC. Nota 4
Daniel Nagy não seria nunca a nossa aposta para a Zengo este ano mas por algum motivo ficou na equipa. Não teve um fim de semana brilhante, ainda conseguiu fazer algumas das voltas mais rápidas mas numa fase em que rodava sem ninguém à frente e os homens da frente lutavam entre si. Precisa de mais experiência mas para já ainda não nos convenceu. Nota 5
Corrida 1:
Corrida 2:
Geral do campeonato:
Pedro Mendes
Fábio Mendes
Um pensamento sobre “WTCC – Tiago Monteiro e Honda muito felizes em Marraquexe (Análise)”