“If everything seems under control, you’re not going fast enough”, disse Mario Andretti e twittou Donald J. Trump, ainda não era Presidente dos EUA. A questão a tratar nada tem a ver com Trump e as suas fantasias, mas sim com o pessimismo instalado no automobilismo. Voltando à frase de Andretti e utilizando-a como metáfora, o automobilismo está a andar bem depressa, já que está completamente fora de controlo.
Os fãs estão apreensivos, os promotores cheios de trabalho e os circuitos vazios, no entanto o Verão tem sido profícuo em más noticias. A Porsche anunciou no final do mês passado, o abandono do projecto LMP1 no WEC, para se focar na Fórmula E e nos GT’s, à semelhança dos seus primos de Ingolstadt no final de 2016 (Também teremos um Porsche TCR?). Também na Alemanha, a Mercedes anunciou o abandono do DTM, enquanto o WTCC parece estar em risco, já com o abandono de marcas oficiais, como é o caso da Lada e Citroën. Já muito (e bem) se escreveu sobre o assunto, mas a verdade é que se as marcas não estão interessadas em continuar na frente do pelotão destas competições, em que é que estão interessadas? Na Fórmula E. É assim tão importante estar na vanguarda do “movimento” eléctrico?
Uma rápida pesquisa no Google em qualquer língua, percebemos logo que sim, é extremamente importante. A Alemanha não quer mais títulos nos jornais em letras garrafais sobre esquemas na sua mais exportada tecnologia, o automóvel; o Reino Unido prepara-se para não receber nem produzir, a médio prazo, automóveis a gasóleo (ufa, alguém que também não gosta do diesel!); ainda hoje foram anunciadas as primeiras vagas da Tesla no nosso território e lançada em vários sites nacionais que um conjunto de cientistas estrangeiros querem utilizar os candeeiros das estradas como pontos de abastecimento de veículos eléctricos.
Daqui a pouco tempo, vamos estar à espera que o nosso Tesla ou Jaguar ou Mercedes ou BMW ou Renault, carregue para irmos em direcção ao hipermercado atestar a bagageira de porcarias envolvidas em plástico, que mais tarde acabará no sítio do costume… o oceano. Mas como temos um eléctrico poderemos tirar isso da consciência.
A indústria automóvel necessita urgentemente de mudar para algo mais limpo, ou aparentemente mais limpo, já que neste momento estão até aos joelhos com o lixo que provocaram. Logo, o desporto motorizado, como montra do mundo “real” tem de mudar. Os fãs querem a pureza do desporto automóvel? Pois, mas os senhores da “pasta” querem que o pessoal continue a comprar carros e para isso temos todos que continuar vivos, com espaço suficiente para termos estradas e não vivermos no meio do mar devido ao aquecimento global. O que nos dizem é que os veículos eléctricos são mais amigos do ambiente e nos facilitarão a vida.
Uma vez em conversa com um amigo, por acaso engenheiro, dizia-me que a nossa geração assistiria à morte do motor de combustão, mas que existiam outras tecnologias em estudo para o substituir, para além da electricidade. Será? Assistiremos ao nascer e ao colapso do veículo eléctrico?
Eu sei o que quero (não sabendo se algum dos senhores das marcas concordam comigo). Quero sentir o automóvel, cheirá-lo, ouvi-lo. Concordo que nasçam outras tecnologias, porque também gosto de respirar à fartazana, mas há tanta gente que não gosta de automóveis e que só os utilizam para chegar de A a B. Esses devem de ser o público-alvo dos veículos eléctricos, não eu e os milhões como eu, que ainda se arrepiam só de ouvir um V10 a rugir. Ainda aceito os actuais LMP1, que são autênticas pérolas da engenharia ao mesmo tempo que nos dão lutas inacreditáveis em pista.
Afinal o que nos dá a Fórmula E? Cheiro a borracha queimada? Se querem Fórmula E, comprem um Roomba!
Pedro Mendes