Tem corrido nas redes sociais notícias que referem a possibilidade de ser criado um campeonato de Formula 1 apenas para mulheres. Talvez não sejam bem máquinas de F1, mas parece que a ideia base é criar um campeonato de monolugares que tenha ao volante apenas mulheres. Esse campeonato teria 6 provas, 5 delas na Europa e 1 nos Estados Unidos.
Obviamente que é um assunto que provoca divisão e cujo consenso é difícil de atingir. Se por um lado é um dado adquirido que o desporto motorizado é um mundo essencialmente masculino, onde as mulheres não se têm conseguido impor como noutras áreas, e que uma categoria apenas de mulheres permitiria a algumas ter a oportunidade que ainda não puderam ter, por outro está-se a fazer uma categoria para mulheres correrem, cujo prémio é um teste num F1, estando implícito uma espécie de inferiorização das mulheres.
Carmen Jordá é apologista da criação deste campeonato e vê com bons olhos que as mulheres possam ter uma oportunidade de correr e mostrar a sua capacidade: “Acredito que que um campeonato de F1 de mulheres poderá dar-nos a oportunidade de competir de igual para igual, como noutros desportos. Um dia isso irá acontecer e penso que é o caminho certo a seguir. As pessoas pensam que por pilotarmos os mesmos carros que os homens, que temos as mesmas hipóteses mas isso não é verdade. Tive de lutar muito para chegar onde cheguei, apenas por ser mulher.”
Do lado oposto está Susie Wolff, que é completamente contra e não vê qualquer interesse na competição: “Porque haveria eu de ter vontade de competir num campeonato apenas de mulheres? Possso garantir que tal não me interessaria minimamente.”
Dizer que vivemos num mundo onde as mulheres têm igualdade de oportunidades pode ser uma afirmação demasiado ambiciosa pois, infelizmente, ainda se repetem casos onde o género ganha mais relevância que o talento. No caso de desportos físicos, a separação por género faz sentido pois a fisionomia masculina é diferente da feminina. Eu pessoalmente não gostaria de ver um Gattuso ou um Pepe dar um encontrão a uma jogadora adversária. Mas não é algo depreciativo para as mulheres, é apenas um facto que a natureza nos impõe. Acredito que os jogadores acima mencionados teriam dores de cabeça a lidar com uma jogadora como a Marta, capaz de lhes partir os rins sem perder a compostura.
No caso do desporto motorizado, embora seja necessário preparo físico, é claramente mais uma questão de talento do que de força. A Carmen que nos desculpe, mas a verdade é que ela não era das melhores ao volante e lembro-me do caso em que ela ficou sem lugar no GP3 e que o colega que a substituiu fez o 2º melhor tempo na qualificação seguinte, quando ela dificilmente saía do fim da grelha. É preciso entender onde está o problema e não é criando um campeonato paralelo (que nunca seria paralelo e seria sempre visto como uma categoria inferior) que se resolve esta situação.
Susie Wolff afirma, pertinentemente, que o há poucas raparigas nos kartings e que por isso há mais dificuldade em encontrar novos talentos no feminino. Se as potenciais estrelas do futuro, não souberem que têm talento nunca irão tentar o mundo das corridas. Toto Wolff é da mesma opinião e também se mostrou contra a ideia do dito campeonato, que poderia colocar em causa a subida de mulheres ao grid de F1.
E depois há algo que não mente…o relógio. A F1 procura sempre os melhores entre os melhores (na maioria das vezes) e se uma mulher fizer constantemente tempos ao nível de um Hamilton ou Alonso, acredito que as equipas não terão dúvidas em escolher.
O nome Michelle Mouton tem o respeito de toda a comunidade do desporto motorizado, sagrou-se vice-campeã de rali e venceu as 24h de Le Mans na sua categoria, conduzindo máquinas nada fáceis de domar. Lena Gade é outro exemplo, tendo conseguido impor-se como engenheira de sucesso na estrutura Audi, e na F1 são cada vez mais as mulheres a assumirem posições de destaque, por mérito e talento. São casos onde a questão do género nem se colocou, tal era o talento.
Se ainda não chegaram ao volante é preciso entender a causa e não inventar uma solução esfarrapada. É que não ponho a mínima dúvida que surgirão mulheres com talento para a F1, e se mostrarem que são tão competitivas quantos os adversários em pista, não haverá problema de género.
Parece-me então que fazer um campeonato feminino pode ser algo desprestigiante para as mulheres do desporto motorizado e que elas têm o direito de competir contra os melhores… mas para ter esse direito, tal como os outros pilotos, têm de mostrar talento. Chegar ao topo sim, mas graças a cotas ou favores, não. Merecem mais que isso.
Fábio Mendes