TCR Portugal – Rafael Lobato : “O meu principal objetivo para 2018 é competir no estrangeiro”

A primeira vez que falamos com Rafael Lobato era um jovem cheio de talento à procura de afirmação no panorama nacional. 3 anos depois, Lobato já é uma certeza, com provas dadas no campeonato nacional de velocidade, quer nos sportprotótipos, assim como nos TCR. Desde essa altura que o piloto de Vila Real tem andado no topo a nível nacional e é chegada a hora de fazer o balanço de 2017 e mostrar o rumo para 2018

 

Como classificas a época passada?

Apesar do carro não ter sido o mais competitivo durante a época devido ao BoP, foi um bom ano. Consegui demonstrar que estava com bom andamento. No início estávamos com alguma dificuldade em encontrar um bom set up para o carro e apenas na pausa de Verão, quando testamos em Braga, é que conseguimos perceber algumas questões que o carro nos apresentava. A partir daí adoptamos um Set Up base que foi sendo melhorado prova a prova.

 

Mas ainda assim, conseguiste manter-te em bom nível durante esse período.

Alteramos muita coisa durante o Verão, mas mesmo assim, o carro ainda não nos dava o que pretendíamos. Não me parece que o carro tenha sido mal construído, mas mesmo o Stefano Comini também não conseguia extrair o máximo do carro. Assumimos que tenham sido os 40Kg do BoP que nos tenham penalizado. Digo isto, porque onde perdíamos tempo era nas saídas das curvas. Quando comparávamos os dados com os restantes carros da equipa, percebíamos que tínhamos o mesmo ponto de travagem, velocidade em curva era praticamente a mesma – aliás, o Audi tinha mais velocidade em curvas rápidas – mas nas saídas lentas, acelerávamos e não saíamos do sítio. Fizemos vários testes de potência e o carro acusava todos os cavalos… nenhum fugiu!

 

Sentiste-te melhor no Audi ou no Seat?

Eu gostei bastante de andar de Audi. Senti-me mais confortável – talvez seja apenas uma questão de afinação-, mas uma das coisas estranhas que sentimos, foi que sendo o RS3 um carro de 3 volumes, deveríamos ter mais velocidade de ponta. No entanto, analisando as telemetrias, não era isso que acontecia. Nunca conseguimos ultrapassar um adversário no cone de ar.

 

Pensas que esta época foi mais frustrante para ti, já que tiveste de ultrapassar muitos desafios durante o ano?

Claro que gosto de andar na frente e de ganhar. Venci duas vezes em 2017 e fiz vários pódios, por isso não digo que foi frustrante mas sim tive algumas condicionantes. O Patrick [Cunha] esteve parado alguns anos e tinha bastante experiência em carros de tracção atrás, mas teve que fazer uma aprendizagem neste tipo de carros. No início do ano, notei que ele ainda conduzia como se o carro fosse um GT, mas nos testes de Verão ele fez muitos quilómetros e conseguiu adaptar-se melhor.  Obviamente que foi uma aprendizagem mútua pois eu também tive de me adaptar a um carro novo.

 A comunicação com o Patrick foi uma constante este ano. Isso foi importante para a vossa subida de forma?

Sim, nós falávamos muito durante os fins-de-semana de corrida. O Patrick começou o ano com a postura ideal de aprender o que pudesse e queríamos os dois alcançar bons resultados. Ele aproveitou a experiência que eu tinha em conduzir carros de tracção frontal e ao mesmo tempo deu-me dicas sobre as corridas: como meter pressão nos adversários, como aproveitar para ultrapassar. Foi uma excelente troca de experiências e uma parceria muito boa.

 

Sentiste muita diferença da Speedy para a Veloso?

Notei a nível de afinação do carro, mas também eram máquinas diferentes. Tanto numa equipa como noutra, senti-me confortável. Falo com toda a gente de todas as equipas.

 

Qual foi o ponto alto da época?

Tenho que destacar dois pontos: a primeira vitória no Estoril, quando não esperávamos de todo em vencer a corrida. Nos treinos e nas qualificações embora estivéssemos bem, ainda não tínhamos o andamento necessário para sermos verdadeiramente competitivos. Também tive um pouco de sorte do meu lado passando para a frente cedo na corrida e depois disso consegui alargar distâncias para os adversários.  O segundo ponto alto foi a corrida em Vila Real. Foi a primeira vez que não ganhei, mas apesar disso estava muito rápido e ataquei como pude para vencer. Foi uma luta muito acesa com o Mora mas não é fácil passar em Vila Real.

 

Nessa corrida, houve vários toques entre ti e o Francisco Mora. Existiu algum problema na equipa por causa desse episódio?

Não. Foram toques normais em corrida e apenas um toque mais forte, que resultou no meu radiador furado, mas nada de mais. Não consegui falar de imediato com ele, mas ficou tudo resolvido nessa altura e  não tivemos problemas durante o ano.

Em relação a Vila Real e ao seu traçado: tens várias ultrapassagens nos protótipos, mas parece que com os TCR é mais difícil de passar. O que mudarias para alterar essa situação?

É muito mais difícil de ultrapassar nos protótipos, porque se o carro que persegue tiver menos de 1seg de diferença para o carro da frente, deixa-se de ter ar a passar pela carroçaria começa-se a perder frente no carro, o que dificulta muito em curva. Ao nível de melhorias não dá para inventar muito mais na pista de Vila Real. Há a limitação do espaço físico que e se formos a ver a outros circuitos citadinos acontece o mesmo que aqui. E no nosso caso, em que temos 4 ou 5 pilotos com andamentos muitos semelhantes, torna-se difícil ganhar vantagem suficiente para a ultrapassagem.

 

Embora tenha sido um campeonato com poucos carros, foi um campeonato bastante competitivo. Concordas?

Começamos o ano com um número aceitável de carros para a realidade de Portugal mas depois fomos perdendo alguns, basicamente os pilotos espanhóis. Corremos durante algumas provas com 7 ou 8 carros em pista, mas com um nível bom de competitividade. No final perdemos mais alguns carros, porque ainda se sofre do problema das limitações ao nível do orçamento, que não permitem que alguns consigam fazer a época completa. Mesmo assim, com os 5 ou 6 carros em pista, podia ganhar qualquer um deles.

 

Sentes-te motivado para competir no campeonato nacional?

O meu principal objetivo para 2018 é competir no estrangeiro. Tenho algumas abordagens do exterior, tanto para competir nos GT’s como para continuar nos TCR. Serão os dois caminhos que tenho para escolher e só em último recurso é que me mantenho no Nacional. Temos duas ou três propostas para já – sobre as quais ainda não vou comentar até porque ainda é cedo e há muito por definir- e estamos a trabalhar para tornar isso possível. Dá-me prazer competir cá, pelos circuitos que temos e pelo campeonato, claro. Seria ainda melhor com mais pilotos embora seja preferível qualidade em vez da quantidade, mas quero alcançar mais para mim e creio que é a altura certa para dar o salto.

 

Foste tu que procuraste essas oportunidades ou foram convites que te fizeram do exterior? O fator monetário irá pesar também na concretização dessas possibilidades?

Foi 60% interesse em mim, mas houve também trabalho nosso em dar-me a conhecer. Em relação à importância do dinheiro, isso é inevitável. Claro que com um orçamento maior teria mais facilidade, mas nesta fase creio que se conseguir algo será também pelo reconhecimento do meu talento. As equipas têm muitos pilotos à escolha e se tiverem de escolher vão ter sempre em atenção a questão da qualidade e aí, posso ter vida ligeiramente mais facilitada, uma vez que já não depende apenas de fatores monetários.

 

Estás entusiasmado com esses projectos?

Claro. Não é o patamar máximo onde quero chegar, mas tenho que começar por algum lado. Tenho que começar a mostrar-me lá fora e se correr bem, em 2019 posso tentar subir e aos poucos chegar onde pretendo que é ser piloto profissional. Em Portugal já atingi o patamar máximo. Estou há 3 anos no campeonato nacional e estou muito orgulhoso do meu percurso até agora,mas penso que tenho que ambicionar mais. Se conseguir concretizar isso será um bom primeiro passo para chegar um pouco mais perto do meu objectivo.

 

Se forem GT’s tens um período de adaptação. Estás preparado para isso?

Até agora tenho conseguido adaptar-me bem aos carros que aparecem. Nunca competi num GT, mas penso que nos primeiros testes conseguirei perceber melhor o carro. Existe também a adaptação a outras pistas, que não conheço, mas não é algo que vá ser limitador. Faz parte do processo de adaptação como em qualquer outro campeonato.

 

Desde os primeiros contactos que tivemos que sempre mostraste vontade de fazer endurance. Essa vontade mantém-se?

Sim mantém-se. Claro que o que eu gosto é de correr e se tiver de fazer corridas sprint faço com gosto, mas sinto que as minhas características se adaptam melhor ao endurance. Gosto de corridas mais longas que permitam entrar num ritmo e ficar aí sem cometer erros.

Sendo um piloto com um potencial de marketing tremendo, sentes apoio das marcas para te ajudarem a dar o salto para outros campeonatos?

A nível de marcas pouco ou nenhum apoio existe. Podem facilitar em algumas coisas, mas nada de muito expressivo. Mesmo não nos dando apoios para o orçamento, poderiam utilizar-nos para a publicidade, por exemplo televisiva, apoiando-nos a nível de imagem e exposição, para tentar alcançar outros patrocinadores. Com essa visibilidade poderíamos chegar um pouco mais longe e a partir daí é trabalho do piloto aproveitar essa exposição. Era uma forma diferente mas igualmente útil de nos apoiar.

 

Destacas alguém importante na tua carreira até agora?

Há muita gente que tem sido importante mas se tiver de destacar alguém, o Pedro Salvador. Ainda antes de chegar à velocidade, ainda no ralicross, já falava com ele e somos amigos há muitos anos. Foi a pessoa que mais me ensinou em termos de condução, mesmo a nível mental, para lidar com algumas situações. Em 2017 éramos rivais e continuamos a conversar muito. Nestes últimos 4 ou 5 anos, foi a pessoa com mais peso no meu trajecto.

 

O ano que foste colega de Pedro Salvador foi o ano de afirmação para ti?

Se falares em velocidade em Portugal, dizes 2 ou 3 nomes e o Salvador está sempre nesses nomes. Tem muita experiência, seja dentro ou fora do País, por isso ter sido companheiro dele no Norma e termos vencido em Vila Real os dois, conseguindo andar no mesmo ritmo dele, fez com que realmente esse ano fosse de afirmação. Não só para os outros, mas para mim próprio, por ter conseguido andar ao mesmo ritmo que ele. Aí consegui provar-me que já tinha capacidade para andar entre os melhores, o que foi muito importante ao nível da confiança.

 

 

Ainda houve tempo para falar um pouco mais do campeonato nacional, que poderá ter algumas saídas de peso, embora o piloto de Vila Real acredite que a qualidade se vai manter. O jovem afirmou que os TCR2 podiam ser uma boa solução e um bom patamar de entrada nos TCR, mas que devido a pouca divulgação da categoria, as pessoas não entendem as diferenças de andamentos entre máquinas o que pode dissuadir os pilotos a tentar essa classe. Falamos ainda da possibilidade de Lobato correr nalguma prova nacional, o que neste momento não parece estar em cima da mesa dada a prioridade da internacionalização mas o piloto não põe de parte essa possibilidade desde que consiga arranjar as condições para tal.

 

Mais uma vez foi uma conversa que passou a correr. Já eram muitas as vozes que defendiam que era a hora de Rafael Lobato dar o salto e tentar outros voos e tivemos a confirmação que tal está a ser trabalhado. Sabemos bem que há ainda muitos pormenores a tratar e que nem sempre as coisas acontecem como o planeado, mas estamos a torcer para que as negociações cheguem a bom porto e que o jovem possa mostrar o seu valor além fronteiras. Apenas podemos desejar a melhor das sortes para o Rafa. Mais um talento made in Vila Real.

 

 

Chicane Motores

 

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