Manuel Pedro Fernandes é um dos nomes incontornáveis do desporto motorizado nacional. O piloto de Vila Real fez da sua cidade o palco de eleição para poder brilhar ao mais alto nível. O regresso à competição foi sendo feito de forma gradual até atingir o topo no WTCC. Antes disso, teve passagens brilhantes pelo Troféu Abarth e pelo ETCC, numa jornada memorável para o piloto e a cidade de Vila Real. O nome Manuel Fernandes voltou a estar presente em competições internacionais. É tempo de fazer o balanço de 2017.
Como avalia a sua participação em 2017?
A minha participação desportiva em 2017 começou com grandes expectativas e com uma enorme vontade de vencer corridas. Logo me apercebi, que para isso teria de trabalhar muito, como por exemplo testes em pista, preparação física e muito investimento financeiro, pois a concorrência era forte e com os mesmos objectivos de vitória. Começamos com o 5º lugar na primeira prova, no autódromo do Estoril, sem qualquer teste efectuado. Seguiu-se o autódromo do Algarve, onde aí sim, testamos antes da prova, o que contribuiu para melhorias significativas no acerto do carro, mas na corrida, acabámos por sofrer uma penalização, devido a falsa partida, que nos remeteu para a última posição final. Até aqui, o campeonato não nos estava a correr conforme o desejado, mas seguia-se o circuito de Vila Real, e a nossa motivação e esperança de um bom resultado aumentava. Para que isso se concretizasse trabalhamos arduamente para garantir a competitividade do nosso SEAT. Em Vila Real, estávamos com uma ligeira vantagem face aos outros concorrentes, pois tínhamos disputado a ronda do WTCC. Aliada a esta situação, os testes realizados em Braga, foram muito produtivos no Set-up do SEAT, o que trazia bons indicadores ao nível da competitividade para a prova em casa. E desde logo percebemos que estávamos muito confortáveis, para agora sim, obter um excelente resultado. Nos treinos livres fizemos o 2º tempo, sem grande esforço, que era um bom indicador para os cronometrados. Aqui é que começou, provavelmente, a nossa pior participação em Vila Real. Quando iniciávamos a primeira volta de qualificação, fui abalroado por uma viatura do TCR 2, que me causou danos consideráveis, não nos permitindo obter sequer um tempo de qualificação, que originou a última posição para a grelha de partida. Partindo de último, nunca baixamos os braços e tentamos sempre chegar mais à frente. Mas a corrida foi recheada de acidentes e interrupções, com novas partidas. A prova acabaria com um toque numa viatura que embateu nos rails, que não tive qualquer hipótese de evitar.
Esta metade de campeonato muito pouco positiva, que teve como grande consequência a decisão de não disputar as restantes provas do campeonato, foi sem dúvida a parte do balanço negativo, mas a nosso ver não deixou de ser uma participação digna e a experiência de correr ao mais alto nível nacional foi muito gratificante.
Qual foi o ponto mais alto do ano? E o ponto mais baixo?
O ponto mais alto do ano foi, sem dúvida, disputar a ronda do campeonato do mundo de viaturas de turismo, WTCC, em Vila Real, que é a minha cidade, a minha pista preferida e junto das pessoas que mais me apoiam e acarinham.
O ponto mais baixo foi também em Vila Real, na prova do CNVT/ TCR IBÉRICO, prova para a qual me sentia muito confiante e confortável e com esperança de obter um resultado positivo ou mesmo a vitória na corrida.
Como avaliou o CIVR 2017 em termos pessoais e para a cidade?
O CIVR 2017 foi e será sempre importante para mim e para a cidade. Apesar de não ter obtido os resultados que gostaria, já que na prova do WTCC, senti que se tivesse testado o LADA VESTA antes da corrida, poderia ter atingido melhores classificações e na prova do CNVT/ TCR IBÉRICO, também sinto que se não tivessem acontecido as situações provocadas por outros concorrentes, que referi anteriormente, com toda a certeza teria conquistado uma boa classificação ou mesmo a vitória.
A cidade só tem a ganhar com a realização de provas automobilísticas, sejam elas internacionais ou somente nacionais. Como todos sabemos, as corridas são o nosso cartaz, são aquilo que nos diferencia de todas as outras cidades. É perceptível, e existem dados, de como a economia local se dinamiza nestes fim de semana, o que se traduz em riqueza e em notoriedade da nossa região a níveis nacional e internacional.
Deixou de competir a meio do CNVT. A decisão foi mais pessoal ou profissional?
Devo admitir que estava motivado e pretendia realizar o CNVT/ TCR IBÉRICO integralmente, estando consciente do esforço financeiro, da exigência pessoal, das implicações profissionais e do elevado nível dos concorrentes que iria encontrar.
Como foi relatado anteriormente, a primeira metade do campeonato foi muito atribulada. O que aconteceu em Vila Real, obrigou-me a reflectir e a questionar se valeria a pena continuar, pois o formato das competições actualmente, permite que qualquer pessoa, com ou sem experiência possa disputar provas de competição automóvel, o que por vezes tem consequências desastrosas. Eu e a minha equipa sentimos isso directamente e todo o trabalho, empenho, dedicação, investimento financeiro vai por água a baixo quando nos vemos envolvidos em qualquer uma destas situações. Por outro lado, o campeonato não teve quase nada de ibérico, o que para os meus patrocinadores não correspondeu ao inicialmente proposto. Todos sabemos como são as corridas, e nem sempre correm de feição, mas sabemos também que é crucial que as variadas instituições que as organizam sejam capazes de ajudar a garantir a segurança, os níveis de competitividade e o sucesso expectável para todos os que nelas participam.
Em jeito de conclusão, diria que a decisão de não competir até ao fim da época teve muito de pessoal, pois no em ano em que completei 25 anos de competição automóvel, deparei-me com algumas realidades com as quais não concordo, o que pessoalmente provocou uma profunda desmotivação, aliado ao facto de estar muito tempo sem a família e, não menos importante, me obrigar a não cumprir com os meus compromissos e objectivos profissionais.
Que planos tem para 2018?
Para 2018, pretendo acima de tudo ser feliz e ter saúde. Não digo que não irei disputar nenhuma prova, mas neste preciso momento, sei que já atingi mais do que pensei poder atingir e que me sinto realizado neste desporto que eu adoro, pelo que não penso em voltar a competir a tempo inteiro.
Sente que depois de ter cumprido o sonho do WTCC já conquistou o que queria, ou ainda quer manter-se activamente nas corridas?
Conquistei os meus objectivos por várias vezes, fui campeão nacional, venci um troféu monomarca em Portugal e em Itália, venci uma prova do campeonato europeu de viaturas de turismo, ETCC, participei numa prova internacional de resistência de protótipos, com um Ginetta, e participei numa corrida do campeonato do mundo de viaturas de turismo, WTCC. Como referi anteriormente, sinto-me perfeitamente realizado e honrado pela minha participação em provas de competição automóvel.
Serei sempre um apaixonado e defensor deste desporto e terei sempre uma participação activa no que puder contribuir, mas agora sem as mãos no volante.
Acha que o WTCR é a opção certa?
A opção WTCR é sem dúvida necessária. Nos últimos anos o WTCC tinha perdido alguma competitividade e mediatismo, ao contrário do TCR, que se tem revelado ser uma competição interessante nos variados domínios, competitividade, diversidade de marcas, pilotos, no aspecto financeiro e na espectacularidade das corridas.
Considero “um mal necessário” para manter esta categoria de carros de turismo a um nível desejável. Logo veremos se é a opção certa.
Tendo pilotado um e outro carro, que diferenças realça e qual o carro que mais gostou de conduzir?
As grandes diferenças de condução prendem-se essencialmente com a exigência de condução. O WTCC é um carro que exige muito do piloto na condução, como em travagem ou em curva. Por outro lado é um pouco mais potente e exige uma boa carga aerodinâmica. O TCR é um carro mais fácil de conduzir e que proporciona boas sensações e prazer de condução. Devo admitir que gostei mais de conduzir o TCR.
O que espera do CNVT 2018, tendo em conta a possibilidade da saída de grandes nomes da grelha?
Para 2018, apesar de se perspectivar a saída de alguns pilotos, naturalmente surgirão novos nomes, mais carros e espero, sinceramente, que o CNVT seja competitivo e proporcione bons espectáculos aos aficionados.
Parece que chegou ao fim esta aventura de Manuel Pedro Fernandes. Uma jornada absolutamente fantástica que começou aos poucos e ganhou dimensão internacional. Fomos testemunhas e vimos a história recente a desenvolver-se desde os Abarth, até ao ETCC, chegando ao WTCC. Pudemos ver um piloto cheio de talento, com a noção do peso do seu nome e do carinho que uma cidade inteira nutre por ele. Pudemos entender que além de piloto, Manuel Pedro é chefe de família e tem negócios que lhe ocupam muito da sua vida. As responsabilidades são assim a sua prioridade, algo que aprendeu desde cedo com o seu pai, que ainda é a sua grande motivação. Pudemos perceber a importância de Manuel Fernandes tem ainda… O carinho com que Manuel Pedro recorda o passado não engana.
Pudemos privar algumas vezes com ele e vislumbrar um pouco mais do que é o Manuel Pedro, tímido que não gosta de aparecer. É um piloto que vive intensamente as corridas e que vibra dentro e fora do carro. No fundo sabíamos que este momento estava para chegar. E é com pena que vemos sair mais um grande nome do campeonato. E as críticas que o piloto faz devem ser ouvidas com atenção por parte dos responsáveis. Se queremos ter os nossos melhores pilotos em pista, temos de os ouvir e dar-lhes condições para tal.
Da nossa parte só podemos agradecer ao Manuel Pedro e a toda a sua equipa que sempre nos receberam da melhor forma. Um agradecimento especial também ao Bernardo que foi o nosso elo de ligação durante este tempo todo e nos tratou de forma impecável, sempre. Foi um privilégio ver de perto as vossas conquistas.
Fiquem com alguns registos nossos sobre o piloto:
Entrevista vídeo – https://chicanemotores.wordpress.com/2017/06/23/wtcc-entrevista-a-manuel-pedro-fernandes-video/
ETCC – https://chicanemotores.wordpress.com/2017/06/23/wtcc-entrevista-a-manuel-pedro-fernandes-video/
Entrevista 2015 – https://chicanemotores.wordpress.com/2015/11/10/entrevista-a-manuel-pedro-fernandes-parte-i/