A F1 está aborrecida, demasiado asséptica, demasiado correcta. Os pilotos não são genuínos e são actores que cumprem os papeis para os quais foram pagos. São algumas das críticas que os fãs de F1 apontam aos pilotos da actualidade. Mas essas criticas não chegam a Ricciardo, provavelmente o mais genuíno piloto da actualidade.
Ricciardo nasceu a 1 de julho de 1989 em Perth na Autrália com fortes raízes italianas na sua família.
Começou a competir nos karts, seguindo as pisadas do herói Senna e passado poucos anos passou para a Formula Ford onde competiu sempre com carros ultrapassados, não conseguindo grandes resultados mas conquistando o respeito dos que seguiam a modalidade. No ano seguinte conseguiu uma bolsa para competir na Formula BMW Asiática com 10 pódios e duas vitórias. Nesse ano também fez uma prova na Formula BMW britânica, onde conseguiu 3 pontos. No final desse ano participou na BMW World Final onde foi 5º (um tal de Vietoris foi o vencedor).
Em 2007 o australiano mudou-se para a Europa participando no campeonato europeu e italiano de Formula Renault mas apenas conseguiu um pódio na série italiana, num ano não muito positivo para o piloto. Em 2008 manteve a aposta e foi campeão de Formula Renault na taça” West European” e segundo na Eurocup atrás de Valtteri Bottas.
Em 2008 também fez a estreia na Formula 3, competindo em Nurburgring e foi na Formula 3 britânica que competiu em 2009, onde se sagrou campeão. Estreou-se na Formula Renault 3.5 nesse ano fazendo duas corridas preparando o ano seguinte que correu a tempo inteiro na categoria, ficando em 2º lugar atrás de Aleshin por apenas 2 pontos.
2009 marcou o início do sonho. Esterou-se ao volante de um F1 em Jérez com a Red Bull, num teste para jovens pilotos e foi o mais rápido dos 3 dias. Nesse ano passou a ser piloto de testes e de reserva, juntamente com Brandon Hartley, ficando com esse papel novamente em 2011 pela Toro Rosso, fazendo a 2ª metade da época pela HRT ( pago pela Red Bull), ocupando o lugar de Karthikeyan até ao final da época.
Em 2012 passou a ser piloto Toro Rosso, juntamente com Jean Eric Vergne. A dupla da STR era de qualidade, com ambos os jovens a mostrarem muito potencial. Naquela altura parecia-nos que Vergne tinha mais potencial que Ricciardo. A forma como o francês se evidenciava em pista molhada deixava-nos curiosos mas a verdade é que Ricciardo era muito mais consistente que Vergne. Em 2014, Webber saiu da F1 e a equipa teve de tomar uma decisão e Ricciardo foi o escolhido. Muitos pensaram que Ricciardo iria ser um simples nº2 que garantiria bons pontos à equipa, sem fazer demasiada concorrência a Vettel.
Foi nesse ano que estrearam as novas regras da F1 com os motores híbridos e a Red Bull teve um início titubeante com falta de potencia do motor e um chassis não tão bom quanto o que se tinha visto no passado mas Ricciardo mostrou-se ao mundo com 3 vitórias e exibições que deixaram todos de boca aberta. Encostou Vettel a um canto (o que já é um enorme feito) e passou a ser a estrela da companhia. Em 2015 Vettel saiu e Ricciardo teve Kvyat como colega de equipa. O ano não foi tão positivo quanto o anterior mas Ricciardo assumia-se como o nº1 da equipa mesmo com Kvyat a acabar com mais pontos que o australiano, mantendo-se a mesma dupla em 2016. Entretanto Kvyat foi despromovido à STR e Verstappen passou a ser o novo colega de equipa, numa altura em que o azar e erros da equipa comprometeram os resultados de “Dani Ric”. Foi se calhar a primeira vez que vimos o Sr Sorrisos sem um sorriso. A falha da equipa no Mónaco marcou o piloto e o novo erro em Barcelona derrubaram um pouco a moral do piloto. Mas aos pouco regressou aos sorriso e à forma a que nos habituou e agora ocupa o 3º lugar do campeonato.
“Se quiseres ser bem sucedido no que quer que seja, primeiro tens de gostar do que fazes”. É esta a maneira de ser de Ricciardo. De sorriso sempre pronto e com uma aura leve, o piloto não tem medo de rir e fazer rir num mundo onde as caras sérias são uma constante. Dani é aquele amigo que está sempre a fazer asneiras e que faz rir todos a sua volta. Quando Dani aparece na Tv nota-se que é uma pessoa realizada por estar na F1. Ele próprio afirmou que é um abençoado por estar na posição que está e que por isso tem sempre motivos para sorrir. Uma postura que alguns poderão dizer não se coaduna com o estado de espírito que um campeão tem de ter. Mas em pista Dani passa a ser Ricciardo… um piloto que não tem medo de arriscar as ultrapassagens e que é dos mais rápidos do grid. O nome “Honey Badger” é o que melhor caracteriza o australiano : “Quando olha para ele , parece um animal bastante fofinho, mas assim que alguém entra no seu território de uma forma que ele não gosta , ele transforma-se num selvagem e vai atrás de qualquer coisa – tigres, pítons…” Ricciardo é um pouco isso; um tipo muito afável com quem nos rimos muito mas assim que a viseira desce, transforma-se num animal competitivo sem medo de ninguém e com capacidade para fazer frente a qualquer um.
Se há pilotos que são exímios na arte de bem defender, Ricciardo é um dos melhores a atacar e ultrapassar em sítios que outros nem sequer imaginam. Além disso é um dos mais rápidos em qualificação e a sua velocidade em voltas únicas se calhar apenas se compara à de Hamilton. Se fôssemos donos de uma equipa, Ricciardo seria a prioridade para um dos lugares pois para além de excelente piloto, ao nível de marketing pode ser um trunfo brutal. A sua postura muito típica dos australianos com um pouco de piloto de MotoGP, continua a angariar fãs por todo o mundo.
Não escondemos que somos fãs de Ricciardo e que a forma como encara as corridas é a que mais fãs pode trazer. Um tipo bem disposto mas que não tem medo de mandar um adversário à merda se assim for preciso. E se um dia Ricciardo for campeão do mundo de F1, algo que tem legitimidade para aspirar pois tem talento para isso, será dia de festa aqui no Chicane.
Ricciardo em números:
Nº de GP´s: 100
Épocas: 6
Equipas: 3
Vitórias: 3
Pódios: 13
Voltas mais rápidas: 6
Melhor classificação final: 3º (2014)
Fábio Mendes
Um pensamento sobre “Daniel Ricciardo – A nova alma da F1”